quinta-feira, 16 de maio de 2019

Som de preto

       Mulheres brancas puniam as negras por usarem turbantes/tranças e atraírem a atenção dos senhores de engenho. As religiões de matrizes africanas são, até hoje, perseguidas e atacadas física e simbolicamente. A capoeira foi criminalizada. A escravidão privou as pessoas negras de manifestarem a sua cultura neste solo desde 1500. 
         Eu sou branco. Na verdade, sou alaranjado nos desenhos. Mas, continuo com meus privilégios de ser hétero, brancalaranjado e homem-gato. Vou muito além dessa individualidade, já que a luta não é por uma
pessoa, mas para a sociedade. 
      Não tenho a mesma voz de um negro para escrever sobre, tenho essa consciência, mas posso lutar com vocês? 

   “Não basta não ser racista, tem que    ser      antiracista”. 

FÉ EM DEUS, DJ. 

      Funk 2000 é muito bom, né? Foi quando começaram a espalhar essa cultura que, hoje, no Rio de Janeiro, é patrimônio cultural. Eu sou daqueles que não conseguem ficar parados ao escutarem um batidão. Rebolo a bunda mesmo, desço até chão, boto um sorriso na cara e já to no pistão. 

CHEGUEI NO PISTÃO, DEIXA EU FALAR DEIXA EU FALAR DEIXA EU FALAR. 

       O problema é que quando eu canto funk tá tudo bem. Já um negro cantando funk é bandido, inconveniente e traficante. A indústria cultural e o capitalismo fuderam com o mundo. A cultura do preto é cantada como se fosse a do branco. A valorização da branquitude nos funks foi necessária para este deixar de ser dos favelados.  É covarde demais descartar a origem preta do ritmo e o reconhecer como de outra cultura (tida e havida como superior). 
      
É SOM DE PRETO, DE FAVELADO, MAS QUANDO TOCA, NINGUÉM FICA PARADO

      O samba, antes encarado como coisa de marginal, começou a ser clareado sem que muitos percebessem e, assim, foi mais aceito. O mesmo acontece com o funk. Então, para não deixar morrer, a gente precisa branquinizá-lo?

ERA SÓ MAIS UM SILVA QUE A ESTRELA NÃO BRILHA, ELE ERA FUNKEIRO, MAS ERA PAI DE FAMÍLIA

      Poderia citar mais exemplos os quais ocorrem essa apropriação: dreads, turbantes, tranças. Mas basto no funk. Tudo o que os pretos criam ganham mais valor quando os brancos compram, usam, praticam, executam ou consomem. Até Jesus ficou parecendo um Brad Pitt por causa da cultura dominante. O que mais ela vai tentar fazer? 

Fiquemos atentos. 

EU SÓ QUERO É SER FELIZ E ANDAR TRANQUILAMENTE NA FAVELA ONDE EU NASCI EH
Gato de Botas

6 comentários:

  1. Olá, Gato "brancalaranjado" de Botas! Estou aqui apenas para elogiar a forma que abordou o assunto, bom texto!

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  2. Oi, Gato! ;)
    Gostei muito do texto e da forma como você abordou o assunto, assumindo seus privilégios lá em cima.
    Teve um lugar aí onde você escreveu "fuderam", mas o certo é com "O" --> foderam. Vamo xingar, mas direitinho kkkkk
    Confesso que eu não me aguentei e ao invés de só ler, acabei cantando as letras de música que você botou no meio kkkkk
    Um beijo <3

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    1. Bora xingar direitinho kkkkk
      Eu também acabei cantando enquanto escrevia 🤫

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  3. Gente, o título era para ser “Som de preto (com o “preto” tachado). Mas não to conseguindo fazer isso nem aqui nos comentários

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  4. Tema mais que bem encaixado. A luta é certamente dos pretos. Importantíssimo, porém, reconhecer seus privilégios de gato hetero alaranjado para ser um bom figurante, afinal, esses também fazem parte da peça. Gosto como trabalha bem com esses efeitos de texto, um dia me ensina.
    Abraços!

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