quinta-feira, 16 de maio de 2019

Dilema de cores

     Agosto de 2016. Quem é carioca pode imaginar do que estou falando. A cidade do Rio de Janeiro havia sido sorteada para sediar as Olimpíadas de Verão nesse período. No decorrer de todo o mês, as ruas estavam festivas e animadas em todos os cantos, já que os maiores estádios e arenas não se localizam apenas na Zona Sul e no Centro - como o Maracanã e o Parque Olímpico de Deodoro - trazendo a festa para a Zona Norte e, também, para a Baixada. Nos jogos do Brasil eram decretados feriados para grande parte da população de estudantes e trabalhadores, tornando a festa verde e amarela ainda maior. Foi gratificante ver brasileiros e gringos comemorando juntos até o final, com um evento que tem uma dimensão mundial. Como esquecer do aclamado Fifa Fan Fest?
     O que mais me recordo dessa época era a grandeza e o orgulho que a população tinha em usar uma blusa do Brasil. Em cantar o Hino Nacional no início de todos os jogos. Em hastear uma bandeira do país nas varandas e janelas de suas casas, para todo mundo que queira ver. Nesse período, vi pessoas batendo no peito e dizendo que tinham orgulho de serem brasileiros.
     Maio de 2019. Eu ainda fico atordoada em pensar como tudo aconteceu tão rápido. Como o país chegou em um nível tão crítico no qual tudo que é um símbolo nacional acaba sendo associado à extrema direita e ao bolsonarismo. Contudo, não posso e nem quero ser hipócrita, já que quando vejo uma pessoa na rua com uma blusa do Brasil, esse pensamento é o primeiro que vem à minha cabeça. 
     As eleições de 2018 intensificaram cada vez mais esse processo. Bolsonaro disparava na frente nas pesquisas, principalmente depois da candidatura de Lula ser oficialmente negada. O povo se uniu - incluindo diversos partidos políticos - e, juntos, foram às ruas em manifestações e passeatas contra a eleição de Bolsonaro. Todavia, do outro lado, isso acabou gerando resistência do movimento bolsonarista, que também foi protestar, numa escala bem menor, em apoio ao seu candidato. O atual presidente se diz muito nacionalista - apesar de certas medidas que vem tomando - e sempre tenta passar essa imagem através dos símbolos nacionais. Talvez aí que a apropriação tenha começado. Seus eleitores começaram a fazer o mesmo, sempre com a justificativa de amor à pátria e, consequentemente, aos seus símbolos. 
    É triste pensar nessa situação como um todo. Então quer dizer que a galera de esquerda também não pode amar o país? Isso está totalmente errado. Mas sinto que só tende a piorar cada vez mais, já que essa onda só tende a crescer. Atualmente, vivemos em um dilema de cores no qual fomos divididos em dois lados: ou você veste a camisa verde e amarela ou a camisa vermelha.
Mia Thermopolis

Um comentário:

  1. Oi, Mia!
    Gostei bastante do jeito como você abordou as Olimpíadas pra falar disso aí. Se bem que dá até pra aproximar mais um pouco, né? Até ano passado, na época da Copa, tava "tudo bem", foi só essa euforia passar que essa polarização radical dos símbolos começou.
    Adorei o final falando das camisas, achei bem impactante.
    Só tenho uma crítica a fazer:
    "Mas sinto que só tende a piorar cada vez mais, já que essa onda só tende a crescer. " ---> A repetição do "só tende" me incomodou um pouco, acho que daria pra substituir por outra coisa, nem que fosse "Mas sinto que isso tende a piorar...", na minha opinião só de repetir uma palavra a menos já ficaria melhor.
    Um beijo <3

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