quinta-feira, 2 de maio de 2019

Milagres remunerados

     Eu já fui uma pessoa extremamente religiosa. A igreja pra mim era um refúgio de paz, repleto de amor. Lá tinha aulas de estudo da bíblia, e já até sabia o que os evangelhos diziam. Mas minha presença assídua no local me fez observar muitas divergências entre a palavra de Deus, que eu seguia, e as práticas que ali aconteciam.
     Para começar, algumas igrejas ainda tem “centros de recuperação”- como eles mesmo chamam. Isso permite o ingresso de pessoas com vícios, como álcool e drogas, para uma possível salvação em nome do senhor. Sem supervisão de psicólogos. Nada. Tudo na base do milagre.
     Para mim, naquela época, era uma das muitas missões da igreja. Eles diziam que era um reencontro com o caminho certo. Era tudo a vontade do Senhor. Como não acreditar?! Nascer e crescer dentro de um lugar que promete a vida eterna no reino dos céus, é fácil. Ajuda divina. Um famoso empurrãozinho. Deus ia os salvar do pecado, pois ele ama os pecadores. Um discurso pronto meio fajuto.
     Prometer o milagre da cura, iludir e até piorar o estado de saúde de alguém por um dízimo me parece problemático. Algumas igrejas fazem isso sem remuneração, mas essa não. Era um escândalo atrás do outro.
       Um mísero dízimo, muito dinheiro, uns mil reais – Não sei. Mas era algo. Se aproveitar da vulnerabilidade do próximo não está nos evangelhos que eu tanto decorei. As pessoas, algumas próximas a mim, se matando por um perdão do Senhor. Um perdão que não existe, por influencia de uma instituição ultrapassada. Que se diz no direito de realizar curas. Curas sem supervisão, curas sem ética, curas que não existem pelas mãos de padres.
         Hoje, eu ainda sigo os ensinamentos do meu Deus, mas da minha própria maneira.  Sem contato com o lugar que sabe do seu controle sobre as pessoas e impõe um poder de persuasão sobre os fiéis, que os faz sentir culpa e medo. Uma atitude perversa, que se disfarça e, silenciosamente, se alastra por famílias vulneráveis. Eu vi e presenciei. Por um dízimo, aquele que é defendido fortemente por pessoas cegas de amor a uma instituição. E nada mais.  
Austen dos Anjos

2 comentários:

  1. Oi, Austen. Teve duas frases do seu texto em que eu acredito ter excesso de pontuação. São elas: "Lá tinha aulas de estudo da bíblia, e já até sabia o que os evangelhos diziam" e "Nascer e crescer dentro de um lugar que promete a vida eterna no reino dos céus, é fácil". Acho que as frases funcionariam melhor sem as vírgulas.
    E você esqueceu o acento circunflexo em "influência".
    Abraços!

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    1. Oi, Austen! Concordo com o que ela disse. Antes de ler o comentário nem tinha percebido, mas foram críticas bem colocadas.
      Gostei do texto, infelizmente fala sobre a realidade de muitas igrejas por aí.
      Um beijo <3

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