se arrastam os dias
minha cama antes tão pequena
hoje se faz um mundo inteiro
eu me perdi por muito tempo no espaço entre ela
e o medo que cerca o que habita fora do meu quarto
fora do que eu conheço e tenho certeza
buscar certeza em tudo me levou ao desespero
pra nessa realidade alternativa que agora é a única que conhecemos mesmo que muitos neguem que ela esteja acontecendo
descobrir que a certeza não existe em canto nenhum desse mundo
nesse reino das imprevisibilidades
por anos me sufoquei dentro de mim
pra não existir no mundo lá fora
pra não correr o risco de perder o ar
e hoje entre as tragédias no jornal
os dias se arrastando
e o ar que passou a fazer tanta falta pra milhares de pessoas
eu sinto saudade dessa liberdade que por tanto tempo neguei a mim mesma de poder correr livre fora da minha cabeça
de poder ver o outro existir e o tempo passando corrido
as risadas dos meus amigos e a noite virando dia
de poder decorar os entalhes na madeira que marcam a história de um povo e encontrar no mundo respostas para o que achei existir so em mim
eu perdi muito tempo no espaço da involuntariedade dos medos que minha cabeça criou esse medo irreal de me perder sozinha na multidão
do meu coração disparar tanto até parar de bater
do mundo cair em cima de mim
e dos homens que acham que são donos do meu corpo
e agora que o tempo se fundiu em muitos que nunca acabam
eu me sinto em constante represa
constante tentativa de me guardar pra me ser outra hora
mas nesse tempo que vivemos a outra hora é tão incerta
quanto o presidente ler livros e saber história
então, eu busco a cura de dentro de mim
me lembro de respirar sempre que me falta ar
enquanto a única fração de sol que entra ao meio dia pela brecha da janela toca minha pele eu aguardo o momento que vou poder recuperar o que perdi
e pacientemente, espero esse mundo se curar.
Filha de Oyá