Apesar de a primavera ser a estação de acasalamento para uma boa parte das espécies de animais, entre os seres humanos o verão tem um quê de romântico. “O último verão” poderia ser um roteiro para qualquer filme estadunidense com um romance clichê, um céu azul quase sem nuvens, o sol bronzeando democraticamente qualquer um que posar diante dele, o mar, a praia, as frutas, as cores dos biquínis e as risadas dos amigos reunidos.
Mas, no cotidiano dos subúrbios do Rio de Janeiro, a cena se parece mais com um ônibus pequeno e lotado, sem ar condicionado. Muitas pessoas em pé e todas suando bastante, mas a Mulher do Fim do Mundo não parece se importar. Na verdade, ela está com aquele sorriso bobo no rosto. Sorriso de quem passou a noite em uma festa com os amigos que tanto ama. Sorriso de quem está indo ao encontro de seu próprio amor de verão, que surgiu tão rápido e já significa tanto.
Ela está cansada, mas não se importa com isso também. As aulas do seu último ano do colégio acabaram e, junto com elas, toda uma parte da sua vida chegou ao fim. Só que ela sabe que todo fim é necessário para dar lugar a um novo começo. Ela está animada com o grande talvez que está por vir. Talvez ela goste da faculdade, faça novos amigos, e consiga descobrir cada vez mais sobre a mulher que está se tornando. Talvez as coisas não aconteçam exatamente como ela espera. Mas certamente essa incerteza deixa tudo mais excitante.
É nisso que ela está pensando quando desce do ônibus e começa a andar. E ela caminha, passando por olhos vazios que fitam o horizonte, pertencentes aos velhos sentados nas mesas do bar da esquina. Ela vê as crianças que brincam na praça e dá boa tarde a um casal quando passa por eles na calçada. Tudo parece tão aconchegante, tão certo. Tudo parece tão romântico e ao mesmo tempo tão real.
O problema é que, enquanto seu sorriso se abre e seus olhos brilham, ela se esquece de que todo verão acaba. E se você não conservar o que construiu ao longo dele, o sol se põe e a noite se torna fria e não tão amigável. Mal sabia ela o quanto sentiria falta de caminhar por mais de meia hora sob o sol escaldante. Até daquele ônibus péssimo que quase nunca passava ela sentiria saudade. Saudade dos beijos, do contato físico e do movimento ritmado. Os pêssegos, as bananas e as romãs. Os papos aleatórios no ponto de ônibus depois da dança. As resenhas na casa da amiga, casa que já era quase sua, casa que era de todos eles. A universidade com a qual se encantou quando foi fazer a matrícula.
O último verão acabou e levou tudo consigo, sem pena, sem avisar. E agora resta à Mulher do Fim do Mundo tentar aprender o máximo que puder com esse inverno que parece nunca acabar.
A Mulher do Fim do Mundo
A Mulher do Fim do Mundo fez a Formiga Atômica chorar. Que baita crônica, nossa, quanto ritmo, quanta intensidade nas palavras, nas metáforas, nos seus anseios por aquilo que vai voltar - mas que parece inalcançável. Parabéns. Abraços da Formiga!!!
ResponderExcluirÉ uma honra receber esse elogio de você, Formiga! Essas suas palavras significam muito pra mim, obrigada!! <3
Excluir<3 <3 <3
ExcluirAdorei as metáforas, principalmente a do inverno que parece não acabar. Parabéns pelo texto!!
ResponderExcluirQue lindo. Adoro essas descrições sem verbo, sem nada. Fica tão claro, tão íntimo. Parabéns pela crônica. Amei #xôcorona
ResponderExcluirA intenção era justamente trazer essa intimidade, fico feliz que você tenha gostado. Obrigada!!
ExcluirAin gatilho! Lembrar do verão passado dói tanto, lembrar que não vou poder viver isso nesse é ruim demais. E apesar do calor escaldante realmente esse ano parece um eterno inverno triste e solitário! Sobre o texto foi uma leitura fluída e bem escrito, parabéns
ResponderExcluirAi que lindo, eu amei. Me deixou muito nostálgica e me identifiquei muito com os sentimentos que você falou, também nunca imaginei que iria sentir falta dessas pequenas coisas. Sobre o texto, ele foi bem escrito e a frase final ficou muito boa. Parabéns!!
ResponderExcluirMuito bom!! Amei demais o otimismo do terceiro parágrafo (que saudade de me sentir assim) e seu desenvolvimento sobre o arrependimento, que me identifico bastante. Parabéns pelo texto, um dos meus preferidos dessa semana!!!
ResponderExcluirUma honra estar entre um dos seus textos favoritos, Estela. Obrigada!!
ExcluirGostei muito do seu texto! Principalmente dessa comparação verão x inverno que parece não ter fim. Sem críticas, parabéns!
ResponderExcluirQue texto lindo, mulher! Amei demais toda a narrativa, foi muito gostoso de ler, parabéns!
ResponderExcluirSeu texto ficou lindo! Consegui imaginar todo o cenário como se fosse eu andando no ônibus e nas ruas, até o calor do verão.. Parabéns pela crônica, ficou muito boa mesmo!
ResponderExcluirMuito bonita e envolvente a narrativa, parabéns pela ótima crônica!
ResponderExcluirSeus textos são sempre incríveis, fica até difícil inovar no elogio hahaha.
ResponderExcluirParabéns!