Eu tenho todos os sonhos do mundo, talvez eu deseje as coisas até demais, faço planos irreais e até caio na ilusão. Maldito signo de peixes!
Vivo correndo atrás dos meus objetivos, tento realizar meus sonhos enquanto há tempo. Mas nenhum deles se compara a vontade de poder conversar com você mais um pouco, te abraçar e você conseguir identificar meu rosto, recordar nossas memórias e até mesmo me dar conselhos que nunca seriam seguidos.
Só de lembrar das vezes que eu deixei de ficar com você por causa de algum compromisso idiota da escola, alguma festa com meus amigos, ou simplesmente porque eu estava com preguiça, me culpo demais e vejo como não dei valor para as coisas mais simples da vida enquanto as tinha.
Eu amava tanto as tardes que passava na sua casa, e só de saber que nunca mais será como antes, meus olhos se enchem de lágrimas. A rotina com você era leve, o lanche a tarde era mais saboroso ao seu lado e nossos bailes de carnaval não têm mais a mesma cor sem o seu sorriso e sua animação. Maltido alzheimer!
Agora, quando passo no seu novo lar, aquela casinha velha, sem o quintal que você tanto amava, chego com uma angústia no peito, sem saber se você vai se lembrar do quão importante eu sou e o quão bem você me faz.
Sua casa antiga era tão ampla… nossos momentos na piscina, mesmo quando você não parava de limpar a varanda, eram tão especiais. A gente se divertiu tanto naquele jardim, comendo frutas direto dos pés e dando comida para os passarinhos que nos rodeavam. Obrigado por tudo que vivemos! Nunca me esquecerei do seu almoço, do seu abraço e do seu cuidado com a nossa família. Mesmo com suas dificuldades pessoais e a morte da vovó enquanto eu ainda era um bebê, você sempre foi forte e nosso porto seguro, nossa certeza. É tão triste pra mim te ver com os cabelos brancos, já que você amava deixá-los cheios de tinta para não entregar sua idade, ao lado da sua cuidadora e distante do mundo “real”. Parece que você ficou isolada na sua bolha…
Não se deixe enganar pelo meu sorriso no rosto quando eu ainda consigo te visitar, por dentro, a dor invade meu coração e fico com medo de não ter mais a oportunidade de fazer carinho na sua pele fina, de olhar nos seus olhos, mesmo que aéreos e perdidos na conversa… dói pensar que eu nunca sei quando será a última vez.
Eu te amo tanto, bisa! Espero que você tenha entendido isso ao longo da sua lucidez.
A minha bisavó viveu até os 98 anos de idade. Por mais que tenha sido muito tempo, senti a mesma coisa que você: não saber quando será a última vez - e isso às vezes dói mais do que de fato perder a pessoa. A minha dica é: aproveite, faça sorrir, valorize. Excelente crônica, Tofu. Abraços da Formiga!!!
ResponderExcluirNossa, que tenso. Eu sinto muita falta da minha bisa. Seus longos cabelos brancos com trança, seu carinho por mim... Sinto uma conexão surreal com ela e me emocionei demais com sua crônica. Sei que onde ela está, olha por mim, e sei que sua bisa sabe, no fundo do coração, o quanto vc significa pra ela. Amei a crônica, aproveita ela <3
ResponderExcluirMuito emocionante sua crônica e com as descrições dá pra imaginar essas cenas. Muito bom texto, tofu!
ResponderExcluirTambém convivi com minha bisa e compartilho da sua dor. Acredite, o amor sincero é a única coisa nesse mundo que é infinita e forte o suficiente para ultrapassar barreiras, aproveite muito o tempo que ainda tem. Sobre o texto em si não tenho nada a criticar, a descrição ficou ótima e o texto fluiu bem
ResponderExcluirMuito linda e emocionante sua crônica. Parabéns, Tofu!!!
ResponderExcluirTexto muito lindo e delicado, sinto muito pela sua perda. Você se expressou muito bem e os detalhes deixaram a crônica incrível. Parabéns!
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