[GATILHO]
Agora tudo faz sentido.
A culpa foi minha enfim.
Aquela mão, aquele toque grosseiro, aquela ânsia, aqueles calafrios, aquele terror. A sensação de vazio, a sensação de culpa não me enganou; foi tudo culpa minha.
Não importa se eu tinha oito anos e não entendia o que era aquilo, ou se ela tinha vinte e um e era virgem quando aconteceu.
A culpa é sempre nossa.
Não importa por qual motivo temos culpa. Somos mulheres. Apenas a temos. Não importa se era meu moletom rasgado e aquela blusa velha, tampouco importa se aos oito não foi capaz de impedir. Não importa se ela estava dopada e não tinha condições alguma de impedir.
Fomos nós quem causamos tudo. Cada situação particular.
A culpa foi nossa.
De cada uma de nós.
A justiça considerou o empresário André de Camargo Aranha inocente. Provavelmente consideraria você também se eu tivesse tido forças de falar sobre isso em algum momento da minha vida para alguém.
O “estupro culposo” culpa a de oito anos, culpa a de vinte e um, culpa a de treze, culpa a de dois anos... Culpa quantas de nós for necessário culpar e, protege o André. O André é quem não tem culpa.
Mas agora tudo faz sentido, só não notei antes por ter pouco acesso à informação. Hoje não tenho mais oito e, exatamente pela decisão da justiça de primeiro grau, entendo que a culpa é só minha e de mais ninguém. A intenção não era estuprar. A intenção devia ser me fazer bem e eu quem não percebi. A intenção deve ter sido ser carinhoso com Mariana, ela quem não percebeu.
A culpa sempre foi minha.
A culpa é nossa.
A culpa é SUA.
Joana da Rua
Parece que a culpa nasce com a gente, pra nos acompanhar em todos os momentos da vida e por muitas vezes, nos fazem realmente acreditar que somos culpadas, enquanto protegem os agressores a todo custo. Sinto muito que você tenha passado por isso. O texto, ao meu ver, está muito bem escrito e contém a ironia que me fez refletir bastante. Parabéns pela crônica!
ResponderExcluirObrigada, Estela.
ExcluirInfelizmente a ironia nesse caso me fez refletir muito sobre o quanto essas situações todas não são efetivamente ironicas no dia a dia mesmo, na vida real. Seguimos.
Concordo totalmente!
ExcluirÉ doloroso ler esse texto mas ao mesmo tempo é extremamente necessário que ele tenha sido escrito. Parabéns, Joana.
O texto chega a ser difícil de ler pelo tema pesado, apenas posso dizer que foi uma ótima crônica, parabéns!
ResponderExcluirObrigada, Lizzy.
ExcluirCaramba, muito pesado e necessário. Realmente muito difícil falar sobre isso e ver o que o estupro está se tornando no Brasil. Parabéns, muito boa a crônica.
ResponderExcluirTexto pesado, bem escrito e necessário, parabéns.
ResponderExcluirNossa, ficou muito bom, mto bem escrito. Parabéns, Joana!
ResponderExcluirO texto foi muito pesado, mas foi bem escrito
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