sexta-feira, 27 de novembro de 2020

arrepender-se não é suficiente para salvar amores voláteis

 Você esteve na minha vida por sete anos consecutivos e eu não me imaginava sem você, já que você estava em tudo. Eu soube que eu te queria por perto quando você não respondeu aquela mensagem com a rapidez costumeira. 

Divergências religiosas, diferença nos estilos de vida, sonhos e desejos que se distanciavam, fomos nos perdendo de nós. Parece que vivemos um romance e hoje penso que foi quase isso mesmo, a nossa amizade foi intensa e memorável como aquelas grandes e melosas histórias Hollywoodianas. 

Lembro quando você tomou aquela barra de chocolate da minha mão uma vez, percebi o quanto eu realmente a queria naquele momento que você a comeu inteirinha. Não reclamei, afinal era você quem estava comendo, como eu poderia reclamar de você se deliciando no doce que mais gostávamos de comer juntas? Percebi, anos depois, que não era sobre a barra de chocolate em si, percebi que a minha vontade talvez nem tivesse sido de devorar o chocolate, mas sim de ter partilhado ela contigo, como fizemos tantas vezes com todas comidas que dividimos. Percebi que a minha vontade era congelar aquele momento. 

Te amei em cada detalhe, das mais variadas formas e com o amor mais puro que duas almas não gêmeas podem se amar. Você foi por muito tempo meu templo mais seguro e forte, minha fortaleza nas angústias e minha confidente dos mais íntimos segredos. Hoje, você não sabe mais sobre minhas dores, sobre meus medos, sobre meus sonhos e sobre minhas viagens nem sobre as próximas que eu vivo planejando. Hoje você é um passado remoto que eu convivo apenas com a lacuna. 

Nunca encerramos esse ciclo efetivamente, apenas seguimos caminhos diferentes, mas me pergunto todos os dias se não teria sido melhor assim, um fim definido. Um ponto final. Um tchau. Percebi o quanto sempre te amei mais e o quanto sempre dependi de você, quando ao contrário de mim, você apenas esvaiu-se, aos poucos e sem nunca me dar uma explicação. 

Me pergunto se isso tudo vem daquele relacionamento, daquele noivado, daquele casamento que eu ajudei por madrugadas a organizar, como a madrinha mais dedicada como você me chamava, para que tudo se saísse perfeito, como você sonhava e como você merecia. Mas você foi indo embora, depois de tudo, parou aos poucos de responder as mensagens, parou aos poucos de me contar da sua vida e de perguntar sobre a minha. 

Eu fiquei aqui. Estagnada por anos. Me arrependi por dias, meses e anos e me culpei por não ter insistido ainda mais. Mas talvez eu já tivesse insistido o suficiente e só o que restava era espaço mesmo, o seu espaço e o abismo consequente. Você já não queria mais estar perto, eu quem sentia falta disso o tempo todo. 

Obrigada pelos nossos anos, pelos aprendizados e experiências partilhados, você foi a minha irmã de outra mãe, um pedaço da minha alma que nasceu em outro corpo. Te amo mesmo de longe e te desejo uma vida linda e leve, ainda que não me caiba mais participar dela. 

Te cuida onde estiver. Sinto sua falta, mas isso não muda nada. 


                                                                                                               Joana da Rua


15 comentários:

  1. Que texto puro, Joana. Parabéns pela crônica. Senti a energia lendo daqui. Abraços da Formiga!!!

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  2. Adorei a crônica, Joana. De verdade. Parabéns!

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  3. Muito forte e bem escrita, parabéns, Joana!

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  4. Ai, que bonito.. amizades sempre mexem muito com a gente. Gostei do trecho "Hoje você é um passado remoto que eu convivo apenas com a lacuna." Crônica muito boa, Joana, meus parabéns e espero que você consiga conviver bem com esse afastamento. <3

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    1. Obrigada pelo carinho, Estela! Vamos sobrevivendo às ausências.

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  5. Gostei muito do seu texto, Joana! Só achei que faltou um pouco de conexão entre algumas partes, o que poderia deixar o texto mais fluido. Mas me identifico demais com esse sentimento bizarro de perceber que a gente nem sabe mais quem é aquela pessoa que costumava ser uma das mais importantes da nossa vida. Texto muito bonito, com algumas partes bem potentes, como o penúltimo parágrafo.

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  6. Uau, esse texto me prendeu do inicio ao fim e me fez sentir muitas coisas. Parabéns pela entrega sincera e bonita

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    1. Obrigada, Cigana! Ler de você que eu tive entrega no texto me demonstra um bom sinal, melhorei um pouquinho ao longo das semanas.

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  7. Que texto lindo e forte! Confesso que no início fiquei com preguiça pelo tamanho do texto, mas a leitura fluiu muito bem. Parabéns pela sinceridade nas palavras

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    1. HAHAHAHA, obrigada pela sinceridade e pelas palavras, Tofu.

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  8. Nossa, essa crônica me destruiu kkkk
    Também tentei escrever sobre uma amizade muito importante pra mim que com o tempo foi se distanciando, é uma das minhas maiores agonias, detesto esse sentimento de estar mal resolvida com alguém.
    Mas enfim, parabéns pelo texto!!

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