quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Jesus está puto

 Menina, nem te conto. Jesus voltou e está puto com os católicos. 

Também, né? O cara morreu há uns 1000 e tantos anos, foi representado o tempo todo como um homem loiro, de olhos azuis e hétero, e quando tentam representá-lo de outra forma, os católicos querem tirar do ar. 

Quando Jesus voltou, você precisava ver. Todo aquele papo de bondade, de perdão e de amar o próximo ficou com Deus, porque ele não salvou ninguém. Menina, puto, puto mesmo, com vinho nos olhos. 

Deixa eu explicar, Fábio Porchat, Gregório Duvivier e aqueles maconheiros do Porta publicaram um especial de Natal dizendo que Jesus era homossexual e a comunidade católica ficou irritadíssima, pediram pra tirar do ar e tudo. Aquele papo de desrespeito à fé. O que eles não esperavam é que Ele, telespectador fiel da Netflix, tinha gostado da obra. Estava tão divertido, falava umas besteiras, a galera ria dele… então achou que, finalmente, iam entender que ser homossexual não é pecado, né? 

Que nada. Dias Toffoli teve que barrar o pedido de suspensão do especial e dia 03 o STF manteve a decisão. 

Eu acho errado, já que a Netflix nos forçou a ver, mandaram até e mail indicando. Gostei mais ou menos, mas acho que não pode desrespeitar ninguém, né? Exceto quando destroem terreiros e jogam coquetel molotov na produtora do filme. Assim, se a maioria da população brasileira é cristã, que se danem os outros. 

Mas voltando pra Jesus: chegou lá na Igreja essa semana, gritou, falou que éramos cristãos de merda, mas cá entre nós, a galera acreditou que era ele, eu tenho minhas dúvidas. Ele falou que como que a gente acreditaria em filme falando que ele era branco se nasceu no Oriente Médio? Como que a gente discrimina homossexual se ele fala pra amar o outro como a nós mesmos? Um monte de coisa. Mas Ele era um cara baixinho, franzino, negro… sei lá, não me passou muita confiança. 

O lance é que agora temos que conviver com dois problemas: esse especial liberado em nome da “democracia”, que só de ter demo no nome a gente sabe que coisa boa não é, e esse cara que fala o tempo todo de amar, respeitar e perdoar. 

Sinceramente, se for Ele mesmo, não precisava ter voltado.


                                                                                                          Michael Scarn






10 comentários:

  1. "Como que a gente discrimina homossexual(,) se ele fala pra amar o outro como a nós mesmos?" Essas relações causais ficam melhores se separadas por vírgula.

    Fora isso, nenhum comentário, tema bem escolhido, parabéns pela crônica!

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    1. Oi, Cara. Muito obrigado pela crítica. Em vários momentos eu optei por escrever de uma maneira que se aproximasse da oralidade mesmo: o uso do "né", "pediram pra tirar do ar e tudo", e essa escolha foi para dar velocidade à fala. Mas obrigado pela crítica, novamente. Vou ficar mais atento nas próximas! :)

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  2. Concordo com o que foi dito acima, sobre relações causais. Fora isso, muito bem feito.

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  3. Gostei da ideia do texto, achei confuso em alguns momentos mas no geral passou a mensagem.

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  4. Também gostei bastante, não sabia que o assunto desse especial de natal tinha voltado à tona. Parabéns Michael!!

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  5. Eu achei seu texto muito bom e o uso dos recursos de oralidade como o "né?" me deram a impressão de estar conversando com alguém sobre o tema abordado.

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  6. Fiquei com a impressão de estar te ouvindo contar, a oralidade e a ironia foram bem aplicadas. Parabéns pela crônica

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  7. "Todo aquele papo de bondade, de perdão e de amar o próximo ficou com Deus, porque ele não salvou ninguém." genial kkkkkk adorei como você usou e abusou na ironia, fez o uso deste recurso de forma impecável, parabéns, Michael!!

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