Se o sonho é a realização dos desejos inconscientes, é nesse território em que procuro me decifrar. Lugar que se fosse pintado com tinta, seria de carmim e cor de neblina. Não dá pra ser imaginado nos moldes humanos, com casinhas e ruas, apesar de ser residência das minhas vontades, meus maiores medos e traumas. Território onde fico presa quando não consigo acordar e onde posso me liberar sem censuras ou juízo moral. O único canal direto para mim que possuo, onde tento tento me encontrar e me conhecer verdadeiramente, mesmo com todas as sombras.
E nesse local onde me encontro, que o encontro. A primeira vez que o vi por aqui foi depois de ir a uma festa em que ele estava presente. A partir desse dia, me recordo de vê-lo habitar meu espaço algumas vezes. Chegou despretensioso, me acompanhando em eventos e me fazendo companhia, surgindo inesperadamente em dias específicos. Era bom, mas não o suficiente.
As conversas e trocas que duravam horas se tornaram reais, e ele entrou no meu caminho, existindo não mais apenas nos meus sonhos. Finalmente era bom, e eu acreditei que poderia concretizar aquilo que preenchia cada vez mais minhas noites de sono, e talvez assim o tiraria da cabeça. Uma tentativa em vão, pois todos aqui no território já sabiam seu nome e suas aspirações de vida, seu gosto pra música e em quem se inspirava, ou como ele costumava dizer, seu alter ego. E suas visitas se tornaram quase diárias. Estava contaminada por ele, como uma mancha que ao limpar, se espalha completamente.
Tudo desandou. Não é que tenha dado errado, só não era real. Minha falta afetiva dele era fruto de sonhos, do onírico, de apelos do inconsciente, que se tornou uma paixão que só fazia sentido pra mim. E a realidade material, que se mostrou mais difícil ainda de ser prevista, não pode de forma alguma se equiparar ao imaginado. Não supre a incompletude da vontade, que apenas permanece quando está intocada. Irrealizada.
Ele ainda está aqui. Agora, de forma diferente, aparecendo no fim de acontecimentos só para posar pra foto (e isso é a cara dele), como um mero figurante que ainda rouba a cena. Na vida, amigos. Na verdade, colegas que conversam muito quando se esbarram por aí. Melhor assim.
Estela Lia
Você não é a capital de Tocantins, mas merece muitas PALMAS. Uma das melhores crônicas que li até aqui, certamente. Maravilhosa, Estela Lia, do início (com um título que direciona perfeitamente o leitor) ao fim. Abraços da Formiga!!!
ResponderExcluirFiquei mt feliz com seu comentário, Formiga!! Obrigada <3
ExcluirNossa, amei o título e o texto foi ótimo, ele flui bem e dá para entender o que você queria passar. Parabéns!
ResponderExcluirO título é de uma música que gosto muito da Letrux, obrigada!!
ExcluirShow de bola
ResponderExcluirTexto muito interessante, parabéns!
ResponderExcluirAdorei o fato de não ter desvendado o que era de verdade, deixou implícito mesmo que claro. Parabéns pela crônica, adorei.
ResponderExcluirObrigada pelo comentário!!
ExcluirAmei, me prendeu na leitura do início ao fim. O texto foi bem desenvolvido, tem ótimas descrições dos sentimentos e é super delicado. Parabéns!!
ResponderExcluirMuito obrigada, Gato de Chita!
ExcluirCaramba, Estela, que texto! Esse é daqueles que eu vou ter prazer em guardar pra ler depois, ficou incrivelmente bem escrito. Amei a forma como a narrativa foi sendo construída cheia de metáforas que se encaixaram e foram descritas perfeitamente. Nem sei mais o que dizer, só sei que amei. Obrigada!
ResponderExcluirParabéns pelo seu texto. A leitura fluiu muito bem e as metáforas e comparações foram muito bem construídas.
ResponderExcluirConcordo com a Mulher do fim do mundo!
ResponderExcluirMesmo se eu tentasse, ainda me faltariam elogios, parabéns!! Que crônica linda.
Putz, nível altíssimo, umas das crônicas mais ''profissionais'' que eu li até o momento.
ResponderExcluirO texto ficou muito interessante de ler, parabéns!
ResponderExcluirRepito o comentário do Michael Scarn, adorei a forma que conduziu o texto! Muito bonita a crônica, de verdade.
ResponderExcluirE o título ficou incrível
Muito lindo o texto, de verdade. Passei/passo por uma situação parecida e me afetou demaaais (gatilho kkk)! Parabéns, belíssima crônica
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