sexta-feira, 27 de novembro de 2020

7 vezes 11 = saudade

 


Te tinha aqui. Como o jardim tem as mais coloridas flores. Como um dia belo tem um sol brilhante para nos iluminar. Como um arco-íris pintado de todas as cores sem precisar explicar sua beleza. 


Não importava para você se tais fenômenos naturais aparecessem ou não durante um dia. A minha chegada era sempre o motivo mais concreto para te deixar feliz. E lá estava você, após eternas 7 horas me esperando, de segunda a sexta. Corria tanto para pular em mim e me abraçar. E eu, bobo e mal-humorado, com medo de cair e me sujar, principalmente na chuva, quando você corria em dobro.


Dias antes do meu 18° aniversário você estava tão fraco. E, entre nós dois, mudou quem tinha medo de cair. Até ali eu achava que todo herói tinha força para sempre. E que toda novela tinha final feliz. 77 anos não é para qualquer um. O difícil era aceitar que só 11 passaram pelos meus olhos. Minha única esperança era ter você comigo no dia em que nós nascemos. Fui atendido.


Meu presente de 2005, seu nascimento me encantou a ponto de te escolher entre tantos. Meu choro de 2016. Você correu pela última vez atrás daqueles insuportáveis pombos, mesmo sem nem forças para comer o que eu todos os dias lhe servia. Era aquela mesma criança em meu colo no balanço pendurado na árvore. E eu, egocêntrico e prepotente, ignorei toda a sua alegria sem saber que ela não aconteceria no dia seguinte.


Te ver no chão jogado, duro e acinzentado por dentro e por fora foi doloroso. Preferi acreditar em Deus e nesses clichês de que ele precisava de você. A minha camisa branca limpa era tão simples e sem graça. Os pombos livres no quintal, em sossego total, engordaram, pois já não mais voavam com medo de você. Todas as quedas posteriores à sua morte não tinham seu carinho e sua lambida na sequência. 77 anos: um verdadeiro epitáfio para mim. E se existir um único erro na matemática, esse certamente é não tornar infinita a vida de um cachorro.



                                                                                                  Formiga Atômica

12 comentários:

  1. Nossa, Formiga. Que crônica linda. Muita saudade envolvida. Infelizmente não tenho um dog (acho q exatamente por medo de perdê-lo, na verdade, de como eu ficaria ao perdê-lo) (olha o egocentrismo aí). Parabénss.

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    1. Entendo o que você faz, por um tempo agi assim após a morte dele, mas depois vi que precisava seguir a vida e dar amor a outros pets. Obrigado, Michael. Abraços da Formiga!!!

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  2. Muito lindo seu texto e emocionante. Também perdi minha cachorra que me acompanhou na infância em 2016 😢 Sinto muita saudade! Enfim, ótima crônica.

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  3. Você entende então o que eu senti. A saudade é o que nos conforta hoje. Muito obrigado. E meus sentimentos igualmente, Mônica. Abraços da Formiga!!!

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  4. Que lindo, Formiga. Texto emocionante e muito sensível da sua parte, não consigo nem pensar em perder meus doguinhos... parabéns pela crônica!!

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    1. Dê valor enquanto tem, essa foi a maior lição da minha vida até aqui. Obrigado. Abraços da Formiga!!!

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  5. Ai, esse texto me pegou totalmente desprevenida. Meus bichinhos são tudo na minha vida e só de pensar que um dia eu vou perdê-los... "E eu, egocêntrico e prepotente, ignorei toda a sua alegria sem saber que ela não aconteceria no dia seguinte." - essa parte me destruiu, por pensar em todas as vezes em que não dou atenção que devia a eles, ocupada me preocupando com coisas tão ínfimas. O texto ficou lindo demais, amei a forma como você foi descrevendo os momentos-sentimentos. Você escreve muito bem, emociona facinho. Obrigada por isso!

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    1. Que fofura! Obrigado pelo carinho, Mulher do Fim do Mundo. Dê um abraço neles por mim e cubra-os com carinho sempre que puder. Eu que agradeço pelo seu comentário. Abraços da Formiga!!!

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  6. Animais geram uma conexão bizarra conosco, sinto muito pela sua perda. O texto ficou lindo demaisss, parabéns!

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  7. Lindo o seu texto e a emoção que ele passa, Formiga. Gostei muito das comparações no 1º parágrafo. Parabéns

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  8. Que texto lindo, eu chorei de verdadee :(. Sinto muito pela sua perda e entendo a sua dor, também queria que os dogs durassem pra sempre... Sobre o texto em si, ele foi bem escrito e a narrativa fez a leitura ter uma ótima fluidez. Parabéns!!

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