Para o espião Expósito

 Levanto, acordo cedo sempre no máximo às 8h00. Já me levantei exausta de imaginar a

quantidade de coisas a fazer com uma preguiça determinada.

Invejo não só os meus fios de cabelo cacheados que ficaram no travesseiro, mas os que estão largados pela casa inteira. Largada, era como eu queria estar.

Passo um café, cai bem com uns biscoitos. A caneca fica na pia “mermo” porque nunca tenho saco de lavar a louça. Olho para o relógio no pulso e para variar atrasada, mas o motivo é excelente, adoro um silêncio a não ser quando é um pagodinho tocando para agraciar o dia.

Na hora de me arrumar, o sapato é aquele primeiro catado com o olhar. O desejo de usar chinelo o dia inteiro me domina, mas os boletos não se pagam sozinhos e lá no trabalho não pode. Trabalho tóxico.

Me levanto, estufo o peito e caminho com confiança. Mas, é claro, seguido de um tropeço no tapete da sala e mais alguns até o trabalho. 

Esse paralelo tá sempre presente na minha vida porque é foda em algumas situações conseguir escolher entre firmeza e insegurança. Sigo sozinha, pelo menos por enquanto é melhor assim.

Responsabilidade em primeiro lugar sempre, tudo tem consequência e geral sabe disso.

Cada um com suas escolhas. Eu evito lidar com o que pode ser evitado, é diferente. Só que das minhas consequências cuido eu.

Caminhando por aí, mais uma notícia que me deixa bolada.

- PORRA, QUE PRESIDENTE IDIOTA.

É meu senso de justiça me cobra um valor alto às vezes. Tudo bem eu prefiro assim.

Sou sempre muito espontânea, engraçada, só que o que você não sabe Virgílio é que eu nem sempre quero uma briga, mas se eu entrar nela nada me tira.

No fim do dia, o importante é sentar na cama confortável depois de ter comido alguma coisa gostosa e ler um livro. Ligo a TV para me dar sono e falar sozinha quando eu dormir.

- Vingadores, de novo? Como é que passa tantas vezes esses filmes chatos?

Última olhada no celular e respondo ao Virgílio no WhatsApp: “coe, Virgílio Expósito, você anda me espionando é? Consegui me enxergar em grande parte da sua crônica, em outras desviei. Acho que tenho dificuldade de reconhecer a calmaria que você descobriu em mim. Obrigada pelo cuidado e atenção.”

                                                                                                            Nakia Okoye