Princesa Jane

 Cedo é e ela levanta com seu babydoll azul claro com bolinha branca preferido. Arrasta o corpo até o espelho do banheiro e se enxerga embaçada por conta da remela nos olhos. 

Molha o rosto penteando a sobrancelha fina que não tem uma falha e passa a mão na cabeça ajeitando o cabelo castanho claro que um dia acorda ondulado e no outro liso. A donzela está pronta. 

Senta-se na mesa sem precisar do resto da família e beija o copo de café com aquela boca cor-de-rosa que daria de 10 a 0 em qualquer batom. Não há energético melhor. Ignora o relógio e segue despreocupada. 

Com sua pele branca e a preguiça de um acordar recente, dispensa o sol. Liga a televisão com o controle enquanto procura mensagens novas em seu celular do dia anterior. 

Não importa o tempo, ela acredita sempre em dias melhores, em pessoas mais humanas. Apesar de não encontrar boas notícias, o sorriso continua presente. Ah, seu sorriso! É o resumo do quão apaixonante é encará-la. 

A bochecha ainda fica vermelha, não mais pelo apertão dos adultos, como na infância, mas de vergonha, dependendo de quem a elogia. E as marcas de cirúrgia no seu corpo, charme dela, são o que a torna diferente das outras mulheres. 

Mais uma manhã no reino. Que não é na França ou na Inglaterra como um dia ela pretende, mas que é chamado assim justamente por guardar debaixo do teto a doce e impecável princesa Jane Austen. 

                                                                                        Formiga Atômica