sexta-feira, 27 de novembro de 2020

reino das imprevisibilidades


se arrastam os dias

minha cama antes tão pequena 

hoje se faz um mundo inteiro 

eu me perdi por muito tempo no espaço entre ela 

e o medo que cerca o que habita fora do meu quarto 

fora do que eu conheço e tenho certeza 

buscar certeza em tudo me levou ao desespero 

pra nessa realidade alternativa que agora é a única que conhecemos mesmo que muitos neguem que ela esteja acontecendo 

descobrir que a certeza não existe em canto nenhum desse mundo 

nesse reino das imprevisibilidades 

por anos me sufoquei dentro de mim 

pra não existir no mundo lá fora 

pra não correr o risco de perder o ar 

e hoje entre as tragédias no jornal 

os dias se arrastando 

e o ar que passou a fazer tanta falta pra milhares de pessoas 

eu sinto saudade dessa liberdade que por tanto tempo neguei a mim mesma de poder correr livre fora da minha cabeça 

de poder ver o outro existir e o tempo passando corrido 

as risadas dos meus amigos e a noite virando dia 

de poder decorar os entalhes na madeira que marcam a história de um povo e encontrar no mundo respostas para o que achei existir so em mim 

eu perdi muito tempo no espaço da involuntariedade dos medos que minha cabeça criou esse medo irreal de me perder sozinha na multidão 

do meu coração disparar tanto até parar de bater 

do mundo cair em cima de mim 

e dos homens que acham que são donos do meu corpo 

e agora que o tempo se fundiu em muitos que nunca acabam 

eu me sinto em constante represa 

constante tentativa de me guardar pra me ser outra hora 

mas nesse tempo que vivemos a outra hora é tão incerta 

quanto o presidente ler livros e saber história 

então, eu busco a cura de dentro de mim 

me lembro de respirar sempre que me falta ar 

enquanto a única fração de sol que entra ao meio dia pela brecha da janela toca minha pele eu aguardo o momento que vou poder recuperar o que perdi 

e pacientemente, espero esse mundo se curar.


                                                                                                                Filha de Oyá


16 comentários:

  1. Que texto lindo. Acho que conseguiu expressar o sentimento de muita gente nos tempos de hoje e claro, com as particularidades que são suas. O formato me agradou muito também. Parabéns!!

    Não tenho críticas à escrita, mas acho que faltou o acento no "só", no trecho "achei existir so em mim".

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  2. Muito linda essa crônica, Filha de Oyá. Parabéns. Muito boa e atual

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  3. Sua escrita ficou realmente incrível nesse texto, a forma que você capturou os sentimentos dessa época de incertezas que estamos vivendo foi ótima, parabéns!

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  4. Tirando o "so" que você claramente esqueceu o acento - e eu sei que não foi por querer -, essa crônica tá maravilhosa. Amei, do fundo do meu coração. Abraços da Formiga!!!

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  5. O início das frases com letras minúsculas chama a atenção. No mais, um bom texto como de costume.

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  6. Eu amo que todas as suas crônicas são perfeitamente poéticas, parabéns por mais um texto incrível!!

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  7. Que crônica linda, foi muito bem escrita. Você fala de sentimentos, que acredito que muitas pessoas compartilham, de forma muito poética. Parabéns!!

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  8. Eu no início estranhei e estava sentindo dificuldade de ler, mas no final compreendi por completo sua estratégia de escrever sem pontos e com versos quebrados. Realmente me fez sentir sufocada como vc está e quer passar no poema. Enfim, seu texto tá muito lindo vc tá me mostrando como é gostoso ler poesia, agradeço por isso e parabéns por fazer essa arte de forma tão bela e bem feita!

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  9. Gostei bastante do seu texto e de como ele é expressivo. Até me identifiquei na parte que você diz sentir falta da liberdade que negou a você mesma por tanto tempo, eu também tenho uma dificuldade de sair pra qualquer lugar e nesse momento o que eu mais queria era isso, topar qualquer rolê, rs. Parabéns pela sua escrita

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  10. Mais uma vez, parabéns pela sua escrita linda!

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  11. O texto ficou ótimo e sua escrita ficou muito bonita, tudo fluiu bem, parabéns!

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  12. lindo texto, como sempre. Parabéns

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  13. Lindo texto, bem sincero e fluiu bem . Parabéns!

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  14. que crônica linda, Filha de Oyá!! Muito doloroso quando você falou em sufocar a si mesma e como fez uma conexão com "o ar que passou a fazer tanta falta pra milhares de pessoas", mas também de uma sensibilidade enorme! Parabéns por esse lindo texto!

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  15. Texto de uma sensibilidade enorme, consegui sentir cada palavra. Parabéns pela crônica!

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