sexta-feira, 20 de novembro de 2020

(quinta-feira, 19/11/2020)

                                                                                                                quinta-feira, 19/11/2020 

                                                em algum dos (aproximadamente) 800 mil logradouros do Brasil 

Querido Péricles, 

Foi uma honra ser comparada com Joana D’arc. E lutadora como a camponesa que virou santa”, mas é necessário dizer que de santa, pouco ou quase nada me restou e, de camponesa, acabo por passar longe. 

Talvez, um quê de Dark, mas de D’arc só o primeiro nome mesmo e a sede de luta. Passei longe das fogueiras da inquisição, embora eu trave lutas constantes com as “fogueiras” contemporâneas que insistem em querer queimar nossas mulheres. 

Nunca tive a sorte de ter uma blusa com a Frida estampada, mas a calça preta, essa não me falta. A sapatilha eu dispenso há anos, opto por um all star preto surrado e confortavelmente harmônico com meu look desbotado. As sobrancelhas constantemente malfeitas combinam com o meu rosto assimétrico e os óculos tortos. Há quem diga que os óculos me caem bem e que eles aliviam o olhar fixo e estrábico que a muitos incomoda. 

A cicatriz na bochecha, essa foi um ganho e tanto. Pudera ter sido no pique-pega, realmente, mas foi pulando um muro do vizinho, em um dia de muita agitação com meus amigos; aquela aposta tenebrosa, que ao menos venci. Venci e meu prêmio mais duradouro é a cicatriz que carrego e exibo por onde passo. 

A rua sempre me pareceu acolhedora e é incrível a conexão que estabeleço com ela desde pequena. A rua tem histórias que nunca encontrei com tamanha dimensão e riqueza nem nos livros mais raros. A rua tem um quê de casa e um quê de escola que nunca encontrei em outros lugares. 

Joana é da rua. Joana é parte dela, constrói-se a partir dela, tem dores que foram e são despejadas pelas ruas das mais diversas cidades nas mais loucas aventuras e temores que só vivencia quem a tem como nome composto. 

Talvez não tenha acertado em tudo, é verdade. Mas admiro e me encanta o fato de ter se desafiado a me descrever e tentar me interpretar. 

Obrigada, Péricles. 

Espero nos conhecermos pessoalmente em breve. 


                                                                                                              Joana da Rua


16 comentários:

  1. O início da crônica, com as referencias de Dark e das fogueiras, estava excelente Joana

    ResponderExcluir
  2. Muito bom!! Adorei as descrições, referências e o tom poético que você deu a sua crônica. Parabéns!

    ResponderExcluir
  3. Agora quero casar contigo. Parabéns pela crônica, excelentes referências. Abraços da Formiga!!!

    ResponderExcluir
  4. Adorei a crônica, usou muitas referências da crônica que te descreveu. Acho que essa frase "Foi uma honra ser comparada com “Joana D’arc. E lutadora como a camponesa que virou santa”, poderia ter sido escrita de uma outra maneira para dizer tanto da Joana D'arc, quanto da camponesa que virou santa, dois aspectos que segue e que vc descreve. De qualquer forma, a crônica foi muito bem feita. Parabéns!!

    ResponderExcluir
  5. Texto muito bem escrito, amei as referências!!

    ResponderExcluir
  6. Nossa, adorei, principalmente a parte que você fala sobre sua ligação com a rua. Parabéns pela crônica!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigada, Estela! Essa conexão é muito forte e muito real mesmo.

      Excluir
  7. Adorei tudo, a conexão com o texto sobre você e o como se descreveu fazendo essas ligações com o pseudônimo!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, Lizzy. Que bom que gostou! Essa conexão é muito forte e extremamente real!!

      Excluir
  8. Parabéns pelo texto, ficou incrível!!!
    Eu amei as referências e as conexões com o texto do Péricles.

    ResponderExcluir