quinta-feira, 8 de julho de 2021

Brinquedo de encaixe

Na sala de casa, Rita brinca com um balde que a tampa tem buracos

moldados para encaixar peças de formato geométrico. No meio da brincadeira a

menina acha uma peça em forma de triângulo no chão. Testa passá-la por todos

os buracos disponíveis, mas nenhum é compatível. Já irritada, Rita questiona,

como pode não caber em lugar nenhum?


Decide, então, perguntar ao seu pai se aquele triângulo veio junto com

o balde ou se é um peça nova, que não pertence ao brinquedo. O pai responde

que não lembra e diz que ela deve tentar novamente achar o molde. A garota,

mais uma vez, procura o buraco feito para o triângulo na tampa do balde. Sem

sucesso. Não existe espaço para triângulos naquele brinquedo.


O pai sugere que cortem o triângulo, para que ele consiga passar por

alguma das cavidades disponíveis. A filha concorda, pois acredita que isso

resolverá o problema. Juntos, levam a pecinha até a cozinha e lá, com a ajuda

das ferramentas, cortam uma ponta do triângulo. Rita observa a nova peça em

sua mão e pensa “acho que agora ela vai encaixar”.


De volta à sala, Rita inicia o processo de achar um espaço, na tampa,

em que o triângulo possa entrar. Tenta alguns moldes até chegar no do retângulo,

onde, finalmente, a pecinha consegue ser inserida e encontrar as outras no fundo

do balde. A primeira reação de Rita é comemorativa, com sabor de vitória:

“finalmente esse triângulo conseguiu passar!”.


Entretanto, ao observar o triângulo mutilado, percebe que ele não é

mais um triângulo, pois havia perdido um pedaço, tampouco é um retângulo, visto

que não tem as 4 linhas retas, opostas e paralelas. Rita olha para aquela peça

disforme e vê que ela teve uma parte arrancada para conseguir caber num molde,

que sequer tem seu formato. Foi depredada em vão, pois não encaixou.



Euridice Gusmão

5 comentários:

  1. Eurice do Céu que texto lindo, essa narrativa diz tanta coisa em forma de uma "brincadeira de criança", muitos triângulos se desmancham pra virar qualquer outra coisa, a fim de ser encontrar em algum meio. Muito triste que as pessoas não conseguem brincar com eles na forma que eles são. Texto incrível, parabénssss!!!

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  2. Amei seu texto! Acho que ele representa diversas situações nas nossas vidas, quando mudamos quem somos apenas pra encaixar em certos lugares. Viva os triângulos do jeitinho que são!!

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  3. Euridice, que texto!!! Eu amei a sua analogia, é exatamente isso que fazemos! nos mudamos tanto para estar com pessoas e em lugares que não deveríamos! Meus parabénssss

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  4. Euridice, amei suas analogias, não devemos nos modelar para caber no balde de ninguém!

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  5. Euridice, você fez excelentes analogias. To super ansioso para as próximas, a sua escrita é intrigante e bem feita.

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