Os sete meses em que esteve imersa no quente silêncio materno tratou-se nada mais do
que um prefácio de quem eu viria a ser.
Quieta. Ansiosa. Ansiava pelo mundo. Decidi vir mais cedo.
Chorei um choro grosso. Depois chorei muitas vezes.
Mas de agora em diante não vou falar do que não me lembro, até agora essas foram
lembranças que me deram. Quero falar do que realmente vejo na minha cabeça.
O problema é que não me recordo qual dessas é a primeira, então selecionei as mais
antigas, todas são um prelúdio de quem viria a me tornar.
Em uma ocasião meu irmão segurava um isqueiro em formato de arma, de um material
pesado, fingia que ia me entregar, mas nunca entregava. Quando finalmente entregou,
arremessei em sua cabeça. Prelúdio da minha falta de paciência.
Em outra, lutava para que me dessem um trem amarelo. Não consegui. Um dos meus
vários choros em vida, por algo que ansiava mas não pude ter. Prelúdio da minha
melancolia.
Um dia me machuquei em um brinquedo da pracinha. Prelúdio da minha falta de atenção.
Por fim. Assistia meu pai construir nossa casa, que até então era muito engraçada,
colocava o piso, eu carregava um pirulito roxo que manchava a boca, ele ria da minha cara
manchada. Prelúdio do meu amor pela simplicidade.
Apesar dos detalhes, são borrões. Parece que algum dia acordei e tinha 10 anos.
Larajenha
Amei seu texto Laranjenha, falam que nossa personalidade é definida aos 7 anos de idade, achei interessante você fazer esse link, e realmente, para onde vão as memorias que não lembramos?
ResponderExcluirAchei incrível o jeito que vc estruturou, como não se lembrava fez uma seleção para apresentar você GENIAL, parabéns pela crônica e amei te conhecer mais através das suas lembranças <3
ResponderExcluirNossa amei muito seu texto
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