quinta-feira, 15 de julho de 2021

O “amor” e o pior de mim

Eu vivi um relacionamento abusivo. Com certeza você já ouviu essa frase antes. Porém,

acredito que tenha ouvido da boca da vítima e não da do abusador como você vai ouvir

agora.

Durante dois anos vivi um relacionamento muito conturbado, marcado por brigas,

traições, inseguranças, desrespeito, muito sofrimento, dentre outras coisas que o amor

de verdade não te faz passar.

A pessoa com quem eu namorava conseguia me manipular de um jeito único. Ela me

traia muito e por mais que todos os meus amigos tentassem me alertar, eu não queria

enxergar isso. Então, acreditava nas mentiras absurdas e cruéis que essa pessoa me

contava.

Era um relacionamento totalmente sem confiança. Todas as vezes que a gente se

encontrava tinha a “revista” do celular do outro. E quando eu achava alguma coisa no

celular dele ou ficava sabendo de alguma traição, ao invés de terminar e me libertar, eu

me tornava mais severa, ficava mais em cima, tinha um comportamento mais violento e

intolerante, acreditando fielmente que essa era a maneira de evitar mais uma traição.

Têm alguns episódios que passam na minha mente quando lembro desse

relacionamento. Eu me sentia tão insegura que queria saber sempre onde a pessoa

estava, a pessoa não podia sair sem mim, não podia ficar na rua do condomínio, eu

ligava por vídeo se demorasse para responder, dentre outros episódios.

A cada nova traição, eu me tornava mais violenta e agressiva a ponto de empurrá-lo

durante uma briga. Eu estava enlouquecendo, nunca conheci alguém que tivesse um

poder tão grande de contar tantas mentiras quanto aquela pessoa.

A gente brigava e terminava toda semana. Depois de dois anos muito longos nesse

cenário caótico, finalmente terminamos definitivamente. E a mãe dessa pessoa, que até

hoje é uma grande amiga da minha mãe, falou que eu era uma menina muito agressiva e

que isso provavelmente era reflexo da relação conturbada dos meus pais.

Minha mãe se revoltou quando ouviu isso. Meses depois, quando ela me contou, eu me

revoltei também. Lembro de gritar com raiva: ela não sabe o que o filho dela fazia

comigo, não sabe o porquê eu era agressiva.

Durante muito tempo eu usei as atitudes cruéis dele para justificar a minha

agressividade. Depois de um doloroso processo de autoconhecimento, eu me libertei

dessa justificativa. Hoje eu sei que as atitudes dele não justificavam o meu

comportamento abusivo. Sei que se naquela época eu fosse emocionalmente saudável,

teria terminado a relação muito antes de ter chegado onde chegou.

Eu sou uma pessoa agressiva. Talvez isso seja sim reflexo da relação conturbada dos

meus pais. Talvez seja sim reflexo do ambiente caótico em que eu cresci. Eu e minha

psicóloga ainda não descobrimos especificamente de onde vem esse comportamento.

Mas eu sei que quero e vou mudar.


Fada Amarela e Rosa

5 comentários:

  1. Oi fada, muita coragem em escrever esse texto! Acredito que o passo fundamental para uma mudança é reconhecer o erro e você fez bem isso. Estou torcendo pela sua mudança que deseja e pelas suas descobertas com a psicóloga.

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  2. Oi fada, primeiramente parabéns pela coragem de expor essa fase da sua vida, eu também me considero uma pessoa agressiva desde criança, também ainda não descobri porque sou assim é um processo difícil, espero que um dia a gente consiga se libertar disso, te desejo muita força <3 e parabéns novamente por expor sua sombra !!!

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  3. fada, eu admiro muita sua coragem e habilidade com as palavras por conseguir contar isso de uma forma tão sincera. eu não sei direito o que comentar, só que o seu texto é de uma beleza infinita e, se eu pudesse, amaria te abraçar nesse momento ❤

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  4. Fada, que forte o seu relato, expor isso dessa forma crua e direta me impressionou. Espero que você e sua psicóloga consigam descobrir as causas do seu comportamento, acredito que possa ser um processo bem doloroso e desafiador, mas que com certeza irá te libertar mais ainda. Parabéns!

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  5. Fada, eu gostei muito da sua escrita e eu consegui me envolver muito na história! No seu relato, você diz que você era o abusador da relação, mas eu acredito que isso não seja completamente uma verdade. Tanto você quanto o seu parceiro tiveram esse devido papel e o seu comportamento agressivo foi um reflexo disso. Fico feliz de saber que você saiu desse relacionamento, que está reconhecendo os seus erros e que pretende trabalhá-los. Te desejo muita sorte nesse processo e parabéns pela sua coragem!

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