quinta-feira, 15 de julho de 2021

Luta contra o meu eu

Como diz a personagem Mafalda, “justo a mim coube ser eu”. Poxa, logo eu?

Eu, na minha forma mais vulnerável, venho por meio deste texto desabafar sobre uma

Evelyn que ninguém nunca conheceu. Escondo até de mim.


Não queria começar me justificando, porém acho que processos que vivenciei

formaram (ou pelo menos ajudaram) esse meu traço de personalidade. Quase perdi

minha mãe muito nova, sofreu uma tentativa de assassinato e anos depois

descobrimos o mandante do crime. Ela ficou em estado muito grave, mas depois de

dias no hospital lutando pela vida, ela venceu.


Foi nesse momento, em que descobrimos o culpado, que eu, de fato desejei a morte

de alguém pela primeira vez. Não era um sentimento como se eu estivesse asistindo

um filme e quisesse o fim do vilão da história. Era desejo de morte real, de vingança.

Eu me sentia uma pessoa horrível, mas não tinha controle e nem coragem para falar

isso a minha psicóloga.


Depois de algum tempo, mas nem tanto assim, perdi uma das pessoas que mais

amava. Dona Maria, minha avó, pessoa muito querida por todos que cuidou de mim

durante toda minha vida. Foi vitima de câncer e morreu nova, com 66 anos. Sempre

me questionei o porquê de ter sido minha avó. 


A partir desse momento, o que eu havia sentido anteriormente começou a me

dominar mais vezes. Quando há algum conhecido distante ou familiar de alguém que

está no hospital, eu torço sem querer pela piora do quadro clínico e fico triste quando

recebe alta. Por que não era a minha avó recebendo também? Fica mais forte ainda

quando a pessoa estava com a mesma doença dela e às vezes em situações até piores.

Me sinto injustiçada.


Eu desejo a morte das pessoas. É horrível pensar assim. Me sinto um monstro, mas m

conforta em saber que alguém está passando pela mesma dor que eu, que não é

exclusividade minha. É como se eu me sentisse representada. Sentimento confuso que

não me permite o controle da situação mesmo eu aspirando mudar. Uma luta eterna

contra minha sombra.


Evelyn Hugo.

6 comentários:

  1. Evelyn, coragem sério, também por muitas vezes me sinto injustiçada e é muito ruim mesmo você desejar que o ouro não tenha só porque eu não tive, muito difícil mesmo, espero que um dia você vença sua sombra, mas por enquanto não se envergonhe dela, pois todos temos uma.

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    1. Obrigada por tentar entender meu lado, não esperava receber isso.

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  2. muito legal como você transmitiu sua dor nesse texto, evelyn. não consigo imaginar como você se sentiu em todas essas situações, mas fico feliz que conseguiu ilustra-las tão bem aqui. esse sentimento de vingança e talvez até inveja é bem marcante mesmo, mais do que nunca, faz parte! ótima escrita :)

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  3. Seu texto foi tão real, passou tanta verdade. Parabéns por expor!

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