A barba cresce, o pé do cabelo cria cachos e o nó nos fios se aperta cada vez mais forte.
Somente mais um dia em Yacamim. Enquanto botinas raivosas caminham sob o caos, a
respiração se acelera, a escrita insiste em ser agressiva e a vista arranca torturas inimagináveis
ao acordar do descanso. Ligar a TV hoje traz tantas risadas. Quando o inimigo colocou todos
aqueles bichos na terra, tanta gente aplaudiu e sorriu. Tinha gente pra comemorar, mas
também tinha gente pra tacar bomba. A dualidade que movia essa gente, hoje faz a eutanásia
social ser um clamor no meio do povo. Num tempo onde eu lhe procuro por toda parte, entro
em becos da mente e jogo a sanidade sentimental no largo buraco negro da lua. Eu ainda amo,
presumo. Mas meu tempo para amar é limitado, num mundo de surra e bueiro. Debaixo dos
olhos de um lago morto, eu reflitia: “Amar e temer para liberdade em quê?”. Acalma o
coração, volte-se para o seu coração, dê uma olhada na vista. Nossa Pindorama foi dilacerada
e os paredões messiânicos já nos atormentam. Fuja!
Cansa. Enxergar às vezes cansa. Mas não para testemunhar. Cortando tudo que vejo doce por
aí, lixando tudo que vejo sujo por aí. Quando eu caminhava por Mauá, tudo fazia sentido. Até
mesmo usar pulseiras, me banhar em cachoeiras e enxergar o melhor que havia ao meu redor.
Preciso voltar. Sabe quando Cartola cantava: “Deixe-me ir, preciso andar. Vou por aí a
procurar”? Então, sou eu. Coberto de toda a revolta e de todo mato que enxergo na estrada,
numa terra que um messias dizia manar leite e mel. Hoje, somente se esconder. Yacamim, eu
só peço amor e luta. O meu amor vai caminhando por aí, e eu ainda vou revê-la. Um dia. Até
lá, a barba vai crescer mais, mas não mais que as nossas chamas. Desça a ladeira, levante o
cabelo, destrua tudo de novo e volte ao seu clarão.
Desértico Joe
Achei a história envolvente!!
ResponderExcluirAmei a referência a Pindorama! Essa terra, desde 1500, segue sendo destruída por homens que se dizem messias.
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