quinta-feira, 15 de julho de 2021

Tem que se ferrar muito pra aprender

Se eu tivesse que escolher alguma expressão que eu odeie mais que tudo é a

seguinte: “tem que se ferrar muito pra aprender”. Mas por mais que eu deteste, já

pensei nela diversas vezes, uma foi nesses últimos dias.

Estava passando uns dias com a minha família, era uma data especial, mas

tomamos todos os cuidados, até porque a pandemia ainda não acabou. Todo

mundo se dando bem, brincando e bebendo em paz sem nenhuma briga - o que é

bem raro numa reunião de família. Até que recebemos uma notícia que acabou com

tudo - e é aqui que começa o ódio.

Meu ex cunhado - ou como minha irmã prefere chamar, o doador de esperma - teve

contato com uma pessoa que foi diagnosticada com covid. Até ai parece tranquilo,

fácil de resolver, certo? Errado. Antes do diagnóstico sair, ele teve a cara de pau, e

falta de senso, de abraçar minhas sobrinhas e minha mãe, adivinhem, SEM

MÁSCARA. Sem contar a própria família que ele também colocou em risco.

Como se isso já não fosse o suficiente, o infeliz (não tem outra palavra pra

descrever), estava trabalhando como se nada estivesse acontecendo, entrando na

casa das pessoas, e sabe-se lá se estava usando a máscara.

Assim que eu fiquei sabendo de todo o circo, eu perdi meu chão. Sinceramente, eu

não consegui acreditar que a pessoa tão correta que eu tinha conhecido desde

criança tinha sido capaz de ser tão irresponsável.

O sentimento que tomou conta de mim desde o primeiro momento foi o ódio. Eu

queria - talvez ainda queira, não vou ser hipócrita aqui - que ele pagasse por toda a

irresponsabilidade e que sofresse por isso. Eu acredito que ele só vai perceber o

tamanho da merda que ele fez no momento que algo realmente grave acontecer

com ele ou sua família. E se esse for o preço pra desenvolver um pouco que seja de

senso, eu sinceramente não me importo que ele pague. Ele precisa (e merece) se

ferrar muito pra aprender.


Sienna Vettra

7 comentários:

  1. sienna, também tenho pavor dessa frase, mas me revelei bem hipócrita com o avanço da pandemia. todas as vezes que eu via tantas pessoas não fazendo o mínimo de esforço sequer por puro comodismo era quase inevitável não pensar assim. revoltante mesmo, parabéns pelo texto!

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  2. Sienna vc me descreveu muito principalmente nessa pandemia, minha família por parte de mãe agiu como se nada estivesse acontecendo, sendo que são diabéticos, hipertensões, enfim, eu falava das reuniões que é "só a família" e já é uma galera, sabe? e ficava falando tb "Quando morrer alguém aprende". Que nada morreu meu tio de COVID, e na mesma estavam comemorando o aniversário da esposa do Léo, filho do meu tio que morreu, difícil não sentir raiva essas horas. Parabéns pelo texto!!!

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  3. Sienna, eu me identifiquei muito com a sua sombra! Eu odeio a frase "tem que se ferrar muito pra aprender" mas ela já passou incontáveis vezes pela minha cabeça durante, principalmente, a pandemia. O seu ex-cunhado foi extremamente irresponsável mas também me incomodou o fato da reunião familiar ter acontecido. Mesmo que vocês estivessem tomando cuidado, tanto esse quanto outros possíveis acontecimentos poderiam servir para transmitir a doença. E, nesse momento, talvez tudo isso pudesse ter sido evitado des do início. Enfim, espero que mesmo que isso tenha acontecido, estejam todos bem! Abraço!

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  4. Sienna, acho que quando a pessoa é tão sem senso assim, mesmo se ferrando, acaba não aprendendo. Tenho alguns conhecidos que perderam parentes próximos (pai, irmão), mas que continuam saindo como se nada estivesse acontecendo. Minha família materna é basicamente um grupo religioso negacionista, mas você acha que quando a realidade bate na porta deles, eles acreditam em quem? Na verdade ou na corrente do "zap"? Com certeza a 2º opção, mas nem se ferrando conseguem acordar, chega a ser ridículo, uma piada.

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  5. Sienna, concordo com o Melodramático. Quando a pessoa é sem noção, não adianta se ferrar, vai continuar dando cabeçada. De resto, seu texto mostrou bem nossa dualidade e como a gente precisa se reprimir as vezes.

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  6. É triste perceber situações como essas, Sienna. Meio milhão de vidas ceifadas por essa doença terrível e a irresponsabilidade cruel de quem contribui ao caos... Dói tentar fechar os olhos e não enxergar a insanidade. Seu texto foi representativo demais e super necessário!

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  7. Situações parecidas aconteceram na minha família, cheguei a suspeitar que a cura só poderia estar neles, porque até agora não acredito que ninguém teve (ou pelo menos não uma versão grave). Ai consequentemente meu pensamento ia pelo mesmo caminho que o seu, e eu também odeio pensar assim!

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