quinta-feira, 8 de julho de 2021

O feitiço das feições reais

Era uma vez um castelo nas profundezas de uma floresta. Nele viviam três pessoas

que tiveram suas feições reais roubadas por uma bruxa. No homem, onde

anteriormente estava o seu rosto, agora havia uma máscara de lobo. Na mulher, havia

uma de cobra. E na criança, tão pequena e assustada com os rostos dos pais, havia

uma de pássaro. Desesperados e sem saber o que fazer para recuperarem os seus

rostos. Começaram a procurar casacos, capas, capacetes e outras coisas que fossem

capazes de esconder as suas máscaras enquanto procuravam por uma cura. Uma

forma de recuperarem as suas feições. O que permitiria que eles se misturassem entre

as outras pessoas novamente.

Com o passar do tempo, sem respostas sobre uma possível cura. O homem e a mulher

foram se comportando de forma estranha. Sem saber o que fazer. Mas a criança era

uma exceção. Todos os dias, mesmo com a máscara tapando o seu rosto, a mesma

saia para brincar nos jardins e só voltava quando já estava anoitecendo para jantar.

O homem, às vezes, saia com uma capa em busca de comida para a família. Mas

durante os dias em que passava no castelo, a criança, que estava brincando do lado de

fora, ouvia gritos vindo de sua casa. Gritos de horror. A criança não sabia o que

acontecia e, com medo, continuava do lado de fora.

Durante as saídas do homem, a criança também percebia que a mãe ficava mais feliz e

convidava sempre um amigo para encontrá-la. Quando o amigo estava lá e o pai da

criança não, a mulher permitia que a mesma permanecesse mais tempo brincando do

lado de fora. Dizia que queria conversar com o seu amigo sobre coisas que a pequena

não deveria ouvir. A criança ficava curiosa mas obedecia ao pedido da mãe. Afinal,

poderia brincar por mais tempo nos jardins.

Em um dia chuvoso, o homem voltou para casa mais cedo e encontrou a mulher com o

amigo dela. A criança estava do lado de fora do castelo, mesmo achando que fosse

chover. Naquele dia, ela escutou mais gritos vindo de dentro. E depois de algumas

horas, um longo silêncio. A criança estranhou. Pensou em voltar para dentro do

castelo. Mas, antes, viu um brilho entre a grama verde e as belas flores no canteiro.

Quando chegou mais perto, percebeu que era um espelho. Ao encarar o seu rosto,

percebeu que a sua máscara de pássaro havia desaparecido.


Mundo Ressonante

6 comentários:

  1. Mundo Ressonante me conta uma coisa, a máscara da criança sumiu porque quando os pais """"se resolveram"""" o feitiço foi quebrado??? Amei a criatividade do seu texto.

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    1. Oii Sinceron@.com, simm! A máscara da criança sumiu porque o feitiço foi quebrado quando cada indivíduo da família encontrou as feições reais uns dos outros, sendo esse encontro da criança com ela mesma e dos adultos um com o outro. Fico feliz que tenha gostado do meu texto! Abraço!

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  2. Sua criatividade para construir esse texto é admirável! Suas metáforas me fizeram pensar na vida real, em que algumas famílias vivem um tipo de "fantasia", cada qual com suas máscaras, mantendo o personagem. O questionamento da Sinceron@ também é o meu! hahaha

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  3. Que texto criativo, mesmo sendo uma situação da ficção pude refletir sobre assuntos da realidade como essa ideia de "família tradicional" Parabéns!!!

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  4. Quando eu pensei que estava entendendo, veio a cena do espelho e me deixou confusa de novo hahah mas lendo os comentários entendi que é sobre as máscaras que as famílias vestem na tentativa de tampar a realidade. Penso como essas máscaras também induzem papéis a ser representados e no momento da morte o papel de filha acabou, pois a família acabou.

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  5. INCRIVEL, mundo! to impressionada como esse texto ficou tao bem escrito e como foi possivel traçar variosss paralelos com a realidade atual! voce escreve muito bem :)

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