quinta-feira, 22 de julho de 2021

Só em dia de semana, porque domingo ela não vai

Sou filha de mãe solo. Isso significa que meu pai decidiu abster-se da minha existência e que as responsabilidades de ter uma filha caíram inteiramente sobre a minha mãe. Não romantizo isso de forma alguma. Minha mãe não é guerreira, nem forte e muito menos auto suficiente, porque ninguém é. Ela apenas teve que adaptar-se a essa realidade. Pedir para alguns dos nossos parentes me acolherem em suas casas, enquanto ela estava trabalhando, foi uma dessas adaptações. 

É na casa da minha madrinha, em um dia de semana, onde está a minha primeira memória. 

Minha madrinha é divertida, 10 anos mais nova que minha mãe, tem riso fácil e ama dançar. Foi ela quem me introduziu ao mundo das fofocas dos famosos, das novelas e da verdadeira música popular brasileira: o grupo é o tchan. 

“Segure o tchan, amarre o tchan” é o som da minha primeira memória. A imagem que se forma em minha mente é do aparelho de som apoiado no móvel vermelho da sala. Junto comigo está minha madrinha e sua filha. Dançamos juntas na pequena sala. Não lembro que idade eu tinha, mas na época aquela sala parecia enorme para mim. 

São lembranças bobas como essa (são as únicas que tenho acesso) que me fazem ver que ter sido criada por muitas mãos e passar por diversas casas abriu brecha para eu viver situações diferentes das que eu teria vivido se tivesse sido criada apenas por meus pais. Isso tem um lado bom e um lado ruim, mas aqui atenho-me só ao lado bom. Perambular pela casa da minha madrinha apresentou-me algo que eu nunca conheceria na casa da minha mãe nem na do meu pai: as alegrias que só a cultura de massa proporciona. 


Euridice Gusmão.

6 comentários:

  1. Vi as minhas memórias lendo sua crônica. Muitas memórias na casa da Vó, que era onde ficava para a minha mãe trabalhar. Lembrei também de dançar O Tchan com a Raquel, a vizinha que tomava conta de mim quando a Vó não podia. Obrigada.

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  2. Que lindo, Euridice! Deu pra sentir o carinho pela sua madrinha daqui.

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  3. O meu é o tchan era a Joelma rs, amava jogar o cabelo (QUE EU NEM TINHA) e gritar ''CALYPSOOOOU''. Ameei seu texto, estou sorrindo até agora!

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  4. ameiiiii o texto Eurice, que memória linda e fofa. Parabéns <3

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  5. Euridice, eu amei o seu texto!!! Sempre gostei muito de dançar músicas assim com os meus pais na sala de casa quando eu era pequena e o seu texto me trouxe essas lembranças. Parabéns!!

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  6. Sabia que eu nunca tive uma madrinha? Cresci meio frustrada com isso hahah

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