Até os onze anos de idade, eu morei em uma casa enorme, tanto o tamanho como o terreno. A
casa era um pouco afastada das outras, na frente e no lado esquerdo eram terrenos vazios, no
lado direito uma casa que não tinha ninguém, e nas diagonais tinham gente que eu nunca vi.
Então, eu cresci bem sozinho.
Mas estar sozinho não era problema naquela época, eu fazia de tudo. Rodava o terreno da
parte de trás da casa que era mais vertical, que era um jardim cheio de plantas e árvores
frutíferas. Eu pegava limão, maracujá, acerola e pitanga quase todo dia. Quando eu não
queria saber das frutas, ficava esperando a moça que trabalhava lá com olhos de águia. Ela
aparecia no portão, eu saía correndo pelas escadas do quintal da frente e gritava de alegria,
querendo brincar de bloquinhos.
Eu me divertia com tão pouco! Sabia que a minha memória mais antiga estava atrelada à
casa, e eu fui comentar com meu pai para tentar pegar algumas informações a mais. É uma
memória bem simples na verdade:
No colo da minha vó, com mais ou menos quatro anos, eu estava rindo desesperadamente de
uma cena completamente comum. Os cinco cachorros lá de casa estavam brigando, e ver
minha mãe e meu pai desesperados, tentando de todas as formas parar a confusão era uma
ideia hilária para mim.
Perguntei ao meu pai se ele lembrava disso, e ele disse que não. Não conseguia nem dizer se
eu realmente tinha quatro anos, e nem os nomes de todos os cachorros. Fiquei meio
encucado.
Essa memória é muito importante para mim. Como esquecer de Brisa, Belinha, Nina, Pipo
(People para os chiques) e Pirata? Como esquecer dessa memória, que apesar de comum e
banal, eu ria de forma tão pura e gostosa?
Era a época que eu não ligava em ficar sozinho. A época que eu pedia para tomar café
escondido para minha vó, já que meus pais não me deixavam tomar por eu ser “hiperativo”.
E eu ficava todo animado quando ela me dava! Corria, brincava, ralava o joelho e chorava e
logo levantava para correr de novo. Fazia carinho nos cachorros, tentava agarrar a gata.
Empurrava a pedra pela colina com um sorriso no rosto, e até hoje consigo lembrar de tudo
com tanto carinho, tantas saudades.
Não sei o que aconteceu, mas hoje só tomo café para ficar acordado.
Asa Monstro
Ah, a magia de ser criança! Tudo é mais colorido e divertido... Seu texto me fez querer voltar no tempo, a partir do momento que falou sobre as plantas e arvores frutíferas... Que memórias gostosas! Acho que o que falta em nós é esse espírito e felicidade que se tinha na infância, essa que não precisávamos de luxo algum. Acredito que há uma parte dessa criança em mim, que persiste de forma singela, devo me apegar a isso e não deixa-la morrer, pois, se não, o mundo se tornaria completamente cinza... Amei o seu texto e a sensação que ele me trouxe, meus parabéns!!
ResponderExcluirSim, Lua! Acho que é algo que eu preciso relembrar, que é ter prazer nas coisas normais. É preciso imaginar o Asinha feliz, que nem Sísifo empurrando a pedra!
ExcluirAsa, como é bom resgatar essas memórias simples! Faz a gente perceber que não dependemos de muito para ser genuinamente felizes. Amo o jeito que você escreve e passa tanta sinceridade. Texto puro e tocante. Já disse e repito: Sou sua fã!
ResponderExcluirBic, muito muito obrigado! Fico muito feliz, A gente precisa imaginar o Asinha feliz, mesmo sozinho, mesmo fazendo um monte de coisas banais! Abraços super apertados!
ExcluirAsa, seu texto me fez lembrar de uma época da minha vida onde não existia celular, internet ou computador. Brincar no quintal ou na rua, depois da escola, era a parte mais importante do dia. Fico me perguntando se as crianças de hoje terão essas experiências, já que todos já nascem com os rostos focados nas telas.
ResponderExcluirAdorei a imersão que a sua escrita é capaz de dar, parabéns!
Asa, adorei a descrição da sua antiga casa. Meu sonho quando criança era morar num lugar assim.
ResponderExcluirEu também passei grande parte da minha vida morando em uma casa com quintal, hoje em dia eu vivo em um apartamento mas sinto muita falta. Foram vários momentos bons.
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