Shopping de fim de ano

A consciência sempre teve mania de cobrar muito. Chegava até ser chata, ainda mais quando desde pequena tem tentado ser cada vez mais desconstruída, afinal, as crianças são o futuro do mundo. 

Consciência sempre soube que toda maneira de amor era válida, era isso que ela sempre postava nas redes sociais, com a bandeira colorida.

"Não precisa ser gay para lutar contra a homofobia" 

Essa frase era quase um mantra, sempre que aparecia no feeddo facebook, fazia questão de compartilhar, se sentia quase uma adm do Quebrando o Tabu. 

Um dia de dezembro em um shopping lotado, já estava exausta. Estava na décima primeira loja com sua amiga, a hipocrisia, escolhendo roupas para fim de ano. 

Adentraram uma loja no primeiro andar e nada bonito. Deram uma volta completa e só encontraram um amor de incomodar. 

Logo, hipocrisia pensou: "Que loja mal frequentada, como que pode? Um lugar público e elas se agarrando desse jeito!" 

E a consciência fez questão de lembrar de todos os posts com aquela frase tão genérica. 

Subiram a escada rolante e o pior cheiro do mundo exalava. O cheiro de preconceito, que a consciência odiava tanto sentir, mas a hipocrisia, fazia questão de inalar. 

Vinte, trinta, quarenta minutos escolhendo a tão magnífica roupa para o aniversário daquele que pregava o amor e o incômodo subiu também. 

Incômodo parecia se amar, apesar dos olhares de hipocrisia a todo canto sob ele. 

Consciência estava triste, pensava que nunca poderia se perturbar tanto com o amor alheio. 

Saíram da loja sem comprar nada, apenas impregnadas com o cheiro do preconceito. 

Consciência passou o dia inteiro pensando no quanto era amiga da hipocrisia. E ela? Só se glorificava disso. 

Noite Estrelada