Família em primeiro lugar?

A sociedade sempre ensinou que a família é o que há de mais importante no mundo,

mas...e se eu não gostar da minha? Não falo dos meus pais, porque eu os amo.

Sempre me trataram com muito amor e carinho. Sempre me apoiaram em todos

momentos. E me ajudaram a chegar onde eu estou hoje. Com o “eu não gosto da

minha família”, eu falo da sua ampla forma. Contando com os avós, os tios e os primos.

Eu ainda me sinto desconfortável e culpada em admitir isso. Mas com a minha família,

infelizmente, as relações não são boas. Então, porque eu tenho que gostar deles?

Eu não cheguei a conhecer os meus avós por parte de pai. E, sinceramente, nunca fiz

questão. Meu pai fala que eles eram pessoas boas, porém, eu acredito que seja

apenas uma forma dele de tentar criar uma imagem positiva na minha cabeça. Minha

mãe já me contou diversas histórias sobre como o meu avô só batia nos filhos e

discutia com todos. E a minha avó tratava a minha mãe como um lixo. Um encosto que

chegou para atrapalhar a vida do seu filhinho. Sempre a desprezou e, quando havia

uma oportunidade, fazia, até mesmo, ataques racistas. Esses que também já foram

incorporados por meus tios, junto com outros tipos de preconceitos. Se não fosse pelo

meu pai, nunca mandariam sequer uma mensagem. E quando mandam também, são

sempre cruas. Nunca perguntam da minha mãe.

Com a minha família por parte de mãe, o meu desgosto por eles é um pouco mais sutil.

Mas, ainda, é uma relação do tipo “vamos fingir que isso não aconteceu e continuar

fingindo que tá tudo perfeito”. Entre ir me visitar e ir no salão de beleza, adivinhe o que

a minha avó materna sempre prefere? Das duas irmãs da minha mãe, uma só entra em

contato comigo nas festas e quando precisa de algo. Na pandemia, por exemplo, só

falou comigo uma vez para perguntar sobre uma informação mais específica da

faculdade para o filhinho mimado dela. A outra se comunica mais comigo, porém,

também já me ignorou várias vezes. Dos primos, não há muito sobre o que falar. Não

conversamos e se não fosse pelos nossos pais, nunca nem nos veríamos.

Eu entendo a importância da família. E, sim, se eu tivesse uma “perfeita”, eu a amaria

completamente. Mas, se ela é tão individualista e intolerante, eu tenho mesmo que

colocá-la em primeiro lugar na minha vida? A minha resposta é não! Nesse momento,

eu vou agir como eles e ser tão hipócrita quanto, priorizando quem me valoriza.

Mundo Ressonante