Lembranças nos braços da vida

De tudo que traz doce e de tudo que jamais poderei lembrar, eu simplesmente me

encontrei no teu colo. Não apenas pelo cansaço ou pura preguiça, mas pela conexão

que nos marca. Por incrível que pareça, escrever esta crônica me veio num sentimento

leve e suave, assim como a lembrança que guardo do tempo de menininho. Há 15 anos

atrás, eu não queria saber de nada, provavelmente nem conseguiria. Me recordo de

vários momentos, mas em nenhum deles eu me via por completo, somente flashbacks

de um moleque perambulando na escola e no quintal de casa. Nada que passe disso.

Nessas memórias que vem e vão na minha mente, a mente me alegrou com uma

recordação mais linda do que ouvir música ao entardecer de ventania, uma recordação

limpa e inteira que me vem como clarão nessa escuridão que muitas vezes faz minha

consciência. Se há um lugar onde eu me sinta mais em casa do que minha casa,

sempre será a casa de vovó, e por um tempo, eu costumava ficar ali somente a assistir

Chaves e comer qualquer delícia que minha vó fosse fazer. Papai e mamãe sempre

guerreiros e atenciosos, trabalhavam por um bom tempo, sempre entendi isso muito

bem. Na hora que eles chegavam, eu sabia até mesmo ouvir o barulho do motor do

velho Uno, mas nessa lembrança eu não ouvia nada. Caía num sono tão profundo que

riso se confundia com espanto e não havia mais dúvida, pois eu estava realmente no

meu lar. Papai e mamãe chegam, exaustos pelo labor, mas nunca pra dar um abraço e

me levar pra casa. Subindo as escadas que nos levavam ao portão de casa, eu senti e

sinto a vida circular naquele momento.

No colo da família até a cama, eu percebi o quão leve e suave minha vida se encontra

ao lado deles. Nos teus braços, eu entendi. Essa foi minha primeira lembrança de um

tempo que nunca passará ou irá embora para mim, e há de se fazer eterno.

Desértico Joe