quinta-feira, 15 de julho de 2021

Olhares desesperados no buraco negro da mente

Conforme a lua cresce e cria medos, eu sinto seu ar vindo me sufocar. Agora, não há mais fuga,

não há mais fingimento. O nosso tempo definitivamente se foi, velha amiga. Se for necessário,

que venha debaixo destes lençóis, mas jamais minta para mim. Nossos encontros são antigos,

não há mistério para nós dois, presumo. Enquanto morcegos cantam e o silêncio dança sua

valsa, eu luto até o amanhecer implorando um último fôlego. Pulmão cansado pelo andar,

rosto marcado de tanta ilusão, eu clamo por sangue pra sentir que ainda vivo. Por muito

tempo, sua face me veio de preto e eu nada sentia. Entre muros que invocam todo tipo de

claustrofobia e pontas de lança que fazem todo tipo de marmanjo chorar, eu aprendi a lutar de

minha maneira.

A escrita foi precisa para catalisar a dor, para impedir que sua escuridão tomasse para sempre

as curvas do saber. Mas, novamente eu sinto que urge o tempo em que você voltará. Então

não finja doçura ou cordialidade, apenas venha. Tente penetrar cada osso, cada veia que faz

esse ser que lhe escreve, tudo que é e que há. Me deixe em pedaços, se preciso. Mas saiba que

eu vou voltar. E a cada miúdo juntado dos destroços, o Sol brilhará. São quase 23h, e o nosso

encontro nem sequer chegou ao início. Pois bem, nem mencionei o quanto caminhei sedento

na ausência do pensamento iluminado. Tenho medo do apagar de luzes, de saber que tudo

que pensei, que tudo que amei e odiei, irá vagar pelas profundezas da extinta consciência.

Hoje, espero que que o apagar das luzes venha repentinamente, sem tempo para lágrimas e

dores. Sem me afogar no mar de lágrimas que criei, nem sufocado dentro da cova que posso

cavar, mas do lado de quem amei, dentro do que aprendi a viver. Você fará de tudo para

eliminar o sonho meu, mas minha vida foi feita disso, então acredite quando digo que essa

batalha não acabou. Que haja sangue e dor, para que o buraco negro da mente seja uma doce

ilusão do meu sono.


Desértico Joe

5 comentários:

  1. Desértico, senti sua angústia a cada palavra e sua sombra em cada parágrafo, parabéns pela escrita!!

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  2. Desértico, o sentimentalismo em sua crônica é paupável de tão intenso! Eu me envolvi demais com as suas reflexões e angústias enquanto eu estava lendo. Parabéns por escrever tão bem dessa forma! Mas eu ainda senti falta de uma especificação da sua sombra. Talvez, nem você a entenda ou a admita ainda, mas saiba que, a partir disso, torna-se mais fácil trabalhá-la e sofrer menos com ela. Abraço!

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  3. Joe, foi proposital o lirismo? Meus olhos escorregaram pelas letras, me senti tão imerso na sua leitura que nem vi que já estava no final. Sobre a sua sombra, eu também tive a dificuldade do Mundo Ressoante para entender ela, mas pensando bem, acredito que esse chamado pelo outro, seria um chamado da sua sombra, não é?
    Seu texto me remeteu muito a uma relação "tóxica", por mais que você se distancia dessa pessoa, uma hora ela retorna a você, e por mais que odeie ela, não existe mais ninguém que te faça sentir como a mesma.
    Tenho quase certeza que viajei, mas de qualquer forma eu amei o seu texto, parabéns!

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  4. Amei seu texto, muito, mas também tive dificuldade em encontrar sua sombra.

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  5. Joe, amei seu texto, gostei muito mesmo! Mas não se a sua escuridão está mais implícita (até pelo sentimento de angústia que se texto passa), ou se ela não está presente no texto! Você escreve muito bem, está de parabéns!

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