Sentado neste banco há uma eternidade, sinto que não sei mais correr. Apenas observo a
imensidão verde à minha frente, sonhando em um dia poder percorrê-la da mesma forma que
os onze. O que me diferencia deles? Também possuo duas pernas, dois braços, uma cabeça,
treino e me esforço talvez o dobro do que cada um. Simplesmente tem que ser assim.
Invejo todos, mas um em especial: o responsável pela artilharia. Em treinos, tento o
machucar. Em partidas, torço para que o adversário o machuque ou que os deuses me ajudem
e acabem com seu fôlego inesgotável. Me frustro todas as vezes em que vencemos.
Alguns dias, eu desejo a sua morte. Em outros, que simplesmente desapareça. Todos os dias
eu quero ser ele. Desejo que seja meu pé disparando seus tiros, meus pulmões trabalhando
como os seus.
E lá se vão 90 minutos, pra mim uma eternidade. Me sinto cada vez mais paralisado nesse
banco. Quero gritar mas minha voz não sai, quero sentir raiva mas só me sinto morto por
dentro. E lá se vão 120 minutos.
Me imagino gritando e torcendo para o adversário, só pra não ver a felicidade estampada no
rosto dele. Eu o odeio.
Os deuses parecem se divertir com o meu sofrimento. Colocaram ele pra chutar a última bola,
a que pode definir os campeões. Ele acerta.
Eu o odeio.
De repente, aquela paralisia some e eu corro com um falso sorriso, performando felicidade.
Dentre os vinte e três campeões, onze possuem um destaque maior. Dentre esses onze, um se
destaca ainda mais. E tinha que ser ele…
Eu sou o maior derrotado, talvez minha derrota seja maior que a dos derrotados em combate.
Eu me odeio.
Cabide esculhambado.
Cabide, também me sinto assim, tipo pq não eu, sabe? Mas temos que tentar parar de querer ser eles, e tentar ser o melhor que podemos. Boa sorte, amei o seu texto!!!
ResponderExcluirconfesso que pensei bastante se deveria ou não comentar no seu texto e você sabe o motivo, né? não quero "invadir" o seu espaço, mas se os deuses estiverem de bom humor hoje você nem deve ler os comentários dessa crônica. enfim, sobre o texto em geral, eu amei a forma que você escreveu. você escreve muito bem, de verdade, e não, eu não tô dizendo isso da boca pra fora ou só pra ser educada e boazinha contigo. na verdade, você escolhe se deve acreditar em mim ou não. mas a realidade é que você escreve muito bem e eu gosto muito da sua forma de ver o mundo. eu entendo também esse sentimento. o sentimento de se odiar por não ser como pessoa x. acho que eu sinto isso todo dia. eu sinto que por mais que eu ame fazer algo, nunca vou ser boa naquilo como pessoa y ou pessoa x ou pessoa z e isso me deixa super estressada comigo. eu sinto ódio de mim mesma por estar me comparando à alguém quando todo mundo é diferente e também sinto ódio de mim por não ser diferente. contraditório, não? enfim, acabei usando os comentários do seu texto como espaço de desabafo (desculpa por isso), mas eu só queria te dizer que você é extraordinário, não que a minha intenção seja fazer com que seus sentimentos por você mesmo mudem, isso é muito coisa de coach. lindo o texto ❤
ResponderExcluirTem muitos textos aqui, mesmo eu achando de alta qualidade, que eu não sei nem como comentar exatamente. Mas precisava comentar no seu, pelo seguinte motivo: Ele está totalmente dentro do tema, e ainda com uma temática muito presente no nosso cotidiano Brasileiro!
ResponderExcluirVocê também escreve muito bem! Parabéns!
Eu leio uns textos mais narrativos aqui, e fico imaginando eles na minha mente, e a maneira como a sua crônica se construiu na minha cabeça foi quase como abrir uma torneira, jorrou assim...espontaneamente!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirTal qual na sua crônica da semana passada, venho aqui dizer que está muuuuito boa! Foi intrigante (ansiei entender a situação que você narrava e no meio entendi, amei essa construção) , sincera e cumpriu a proposta.
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