Para a pessoa que eu quero que leia,
Confesso que andei remexendo meus cadernos antigos e não consegui conter meu choro. Os
textos que eu escrevia só para você estavam todos lá. Os textos escritos com caneta, seus
comentários e palavras sublinhadas com lápis, como uma lei, quase que como a gente
soubesse o futuro.
Toquei as páginas, pareciam tão frágeis. Senti com os dedos a suavidade daquela época.
Consegui sentir nossos corpos se encostando, consegui lembrar das nossas risadas, consegui
lembrar as broncas que a gente levava por causa da aula.
Esses cinco cadernos, apesar de pequenos, pesavam tanto nas minhas mãos que eu pensei que
o chão ia quebrar. Eu iria cair andar por andar e não pararia até chegar no Japão. Mas,
continuei lendo do primeiro até o último.
Vários textos eram claramente para você, ou sobre você. Ler seus comentários, tão bobos
quanto os textos, fez o meu peito doer. Era a época que a gente se sentia tão próximos um do
outro que não existia solidão.
Eu não sei o que aconteceu, por isso que eu quero que você leia. Talvez a gente tenha só
crescido. Não sei. Sei que foi acontecendo, devagar, mais e mais eu te via de longe. Quando a
gente estava perto, eu era um alienígena que estava longe. Eu sabia que você sentia o mesmo,
ou pelo menos achava, não sei mais. Você sempre dizia para mim: “eu sou eu e você é você”
e eu concordava sem entender. Afinal, não era mentira...
De alienígena, fui aos poucos me tornando monstro. Quando eu estava com você, eu sabia
que tinha algo de errado comigo. Ser humano é estar com outras pessoas, se conectar. Então
se eu não conseguia fazer isso com você, só significava uma coisa.
Eu já não era mais humano. Foi nessa hora que eu percebi.
E quando eu percebi, não teve jeito. Eu não podia mais estar ao seu lado. Se uma borracha
passasse pelos cadernos, tudo que você escreveu seria apagado. Só ficariam os textos escritos
pela minha caneta. Como se você nunca estivesse ali comigo. Exatamente como é agora.
Não consegui de deixar de escrever essa carta. Achei que escrevendo tudo isso, você
responderia com um comentário feito a lápis. Sei que é só uma esperança boba. Só que eu
nunca liguei de ser bobo.
Queria terminar essa carta dizendo que eu finalmente entendi a frase que você sempre dizia
para mim!
De seu breve, Asa Monstro.
Asa Monstro, eu gostei muito do seu texto! Ele fez com que eu me lembrasse de muitas mensagens que eu troquei com os meus amigos pelas escritas nos cadernos na época do colégio. Senti uma nostalgia e uma saudade muito grande. Além disso, eu consegui relembrar o carinho que eu tinha por essas pessoas. Parabéns!
ResponderExcluirDuas dicas que eu gostaria de te dar seria a de não desistir do amor e a de não se culpar por um que não deu certo. Cada um tem o seu jeito e tenha a esperança de que no mundo tem alguém que vai te amar do seu. Talvez seja mesmo essa pessoa do passado que um dia volte. Abraço!
Essa crônica me deixou com o coração apertadinho. Ao mesmo tempo que me levou para uma narrativa que não vivi, também me levou, de alguma forma, a um lugar conhecido. Gostei bastante!
ResponderExcluir