Essa não é a primeira carta que eu te escrevo, mas eu torço para que seja a última. Eu
sei que já faz muito tempo e que eu já deveria ter superado. Para ser sincera, eu achava
que eu já teria superado. Mas quando eu lembro que, finalmente, eu estava tão perto de
você e, mesmo assim não consegui impedir que você fosse para o mais longe possível,
dói.
Você sabe que você foi a primeira garota que eu gostei. A que me fez perceber que eu
gostava de garotas. Como o clichê adolescente, você foi meu primeiro amor. Lembra
quando você disse que queria fazer faculdade no Rio? Meu coração encheu de alegria
porque eu pensei: vou conhecer a Laura. Conhecer de verdade. Vou abraçar a Laura e
sentir o cheiro da Laura e mesmo que ela não queira nada comigo eu vou ser amiga dela
porque eu acho incrível a pessoa que ela é.
Mas as coisas não eram assim tão simples como minha cabeça de 12 anos fantasiava.
Você tinha 14 e eu achava que seu modo de vida era fascinante, e hoje eu enxergo o
quanto você estava pedindo socorro. Mas acredito que mesmo que eu soubesse, minha
eu de 14 anos não estaria preparada para lidar com sua morte naquele dia 11 de janeiro
de 2015.
Sabe Laura, você era dois anos mais velha que eu e hoje eu sou cinco anos mais velha
do que você jamais vai ser. Eu não penso mais em você todos os dias e nem choro toda
vez que preciso pronunciar o seu nome, mas eu sinto tanto a sua falta. Se eu pudesse te
ver por mais cinco minutos, passaria o tempo todo te abraçando e te pedindo desculpas
por não ter entendido os seus sinais – hoje sei que foram vários. Em diversas situações,
eu me imagino conversando com você e te contando do meu dia e me repreendo por ser
e por ter sido tão egoísta. Talvez se eu te perguntasse mais como foi o seu dia você
ainda estaria aqui.
Eu não tenho uma religião e o motivo é que eu acho um absurdo como todas
recriminam o suicídio. Eu sei que é extremamente triste, mas não consigo lidar com a
ideia de que você está passando por mais dor, quando tudo que você merece é paz. Eu
lembro do que você disse na sua carta, que naquele momento você não era nada além de
muito amor e muita dor, e eu achei que eu nunca fosse entender, mas é isso que eu sinto
quando eu falo em você. “O amor é fogo que arde sem se ver”. Pois é, Camões. Eu
preferia quando eu achava essa frase sem nexo e paradoxal.
Eu preciso seguir em frente, Laura. Preciso desapegar da ideia de que você era minha
loteria porque você não está mais aqui e eu não tenho outra opção. Eu acho que você
entende. Eu espero que sim. Então essa é a última carta que eu te escrevo, ok?
Que em todas as próximas vidas você possa ser o meu primeiro amor.
Saramaga.
Saramaga, eu sinto muito, acho que não tenho muito o que dizer para poder te confortar, talvez um abraço caberia agora…seu texto me tocou demais!
ResponderExcluirSaramara, esse foi o seu melhor texto para mim até agora. Chegou me arrepiar a leitura. Me emocionei profundamente. Quando você escreve "Sabe Laura, você era dois anos mais velha que eu e hoje eu sou cinco anos mais velha
ResponderExcluirdo que você jamais vai ser." me senti profundamente tocada. parabéns.
Saramaga, não consigo imaginar como é viver nessa situação, parabéns pelo seu texto, ele me tocou muito. Ela pode não estar viva nessa vida, mas com certeza está dentro de você. Vocês ainda vão se encontrar, senão do que seria o amor senão fosse essa chama que nunca irá se apagar?
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