Ei, como que tá por aí?

Eu já disse, aqui em NY tá tudo bem, tudo indo de acordo com os planos, mas ele

continua perguntando. Fala que, mesmo que nós estejamos a quilômetros de distância,

eu continuo linda, todas as noites. Sei que fiz a escolha certa vindo pra cá, afinal, a

gente só saiu duas vezes, nem o levei em consideração na hora de decidir. Mas acho que

ele ficou um pouco obcecado, fica me prometendo que se um dia eu me sentir sozinha é

só ligar que ele vem na hora. Até escreveu uma música para eu escutar nos “momentos

difíceis”.

Não é possível que até em outro país esse garoto me persegue...Eu só quero viver em

paz, sem me sentir vigiada o tempo todo, será que é pedir muito? Por que ele não foca

na relação intensa que tem com o próprio violão e para de dizer de hora em hora tudo

que eu o faço sentir? Até minhas amigas nova iorquinas ficam tirando sarro dele; basta

chegar uma mensagem que começam a rir enquanto falam que eu enfeiticei o pobre

coitado.

Hoje faz três meses que estou aqui e ele acaba de mandar a 12ª música em minha

homenagem; até mesmo o dicionário não tem tantos sinônimos para a palavra ‘amor’.

“Eu irei de avião, trem, carro ou andarei até aí se for preciso” Acho que está na hora de

eu tomar medidas protetivas. O menino já tá fazendo planos para daqui a dois anos; isso

não é normal e eu estou começando a ficar bastante assustada. Nem durmo direito

pensando que ele vai pular na minha frente a qualquer instante.

Então está decidido. Amanhã vou à delegacia prestar queixa e vou trocar meu número e

todas as minhas redes sociais. É oficial: tenho um stalker.

Estagiária do Profeta Diário