Querida Waldelina

Querida Waldelina Rocha,

Vó, algum problema em trocar seu sobrenome ? Você reclamava que teve que trocá-lo ao casar, e que preferia este do que o do seu ausente pai. Entendo, ele representa muito mais você, a mulher forte que você foi em vida.

Antes de tudo, gostaria de te contar uma fofoca aqui da rua, como bem você diria a ‘’patota da gregório tá pegando fogo’’. Você não sabe quem está traindo quem, e quem ainda por cima estava acobertando...mentira, eu sei que você sabe sim. Aposto que daí viu o barraco.

Não podia começar sem um bom mexerico. 

Então.

Olha bem, você acredita se eu te contar que, se eu me concentrar ainda consigo lembrar do sabor do tempero baiano da tua comida? 

Se fechar os olhos ainda me lembro de andar explorando a sua casamuseu.

Andando pelas suas plantas, pegando café do pé, escutando super rádio tupi enquanto comia pão com queijo, assistindo novela no quarto, fuxicando suas coisas antiga e sentir o cheiro de sabão de coco.

Não visito muito a sua casa, não só  por causa dos novos moradores, o ar mudou desde aquele dia.

Alguns caminhos ainda são estranhos sem você. 

Mas, mais que tudo, eu gostaria de te agradecer por tudo.

Obrigada por me tornar quem eu sou hoje.

Obrigada por me ensinar a prezar pela educação.

Obrigada por me ensinar que dessa vida não levamos nada, que somos muito mais as conexões e coisas que fazemos. 

Obrigada por me ensinar a me importar com os outros  (mesmo que ultimamente sinta meu frágil coração ser destroçado por esse motivo ). 

Juro que, como você me ensinou, nunca votei em ninguém que odeia professor, velho ou pobre.

Eu sou uma garota grande agora. Você não sabe aonde eu cheguei, e tenho muito mais pela frente. Eu herdei essa força de você. Também sou uma Rocha. 

Mas posso sentir você  orar a Deus, e, pedir  a Iansã por mim. Tem funcionado. 

Bom, eu não tive nenhum tempo de me despedir naquele dia, então também não vejo sentido e dizer adeus agora, por isso me nego que essa carta tenha fina

Larajenha