Querido vô,
Hoje fazem exatos três anos que você partiu. O tempo, que me disseram ser a cura,
parece só fazer aumentar esse buraco no meu coração, a saudade que eu sinto. Até
aquelas palavras de consolo, que tanto me ajudaram a encarar a sua perda, hoje de nada
valem, são vazias. Eu gostaria de te reencontrar algum dia, se possível, me desculpar por
não ter sido um neto melhor, te contar as novidades, afinal, o senhor adorava uma fofoca.
Ficava o dia inteiro sentado na calçada em frente ao portão, vigiando quem passava,
jogando conversa fora com o primeiro que se prontificasse a dar bom dia. Hoje essa
calçada é tão vazia… igual meu coração sem o senhor por perto.
O mundo tá uma bagunça, vô. Às vezes me pego pensando que é até bom você não estar
por aqui agora, teimoso do jeito que o senhor era. Sei que estou um tempo sem visitar seu
túmulo, mas prometo ser a primeira coisa que eu farei depois de vacinado. Chorei tanto
na última vez… com certeza o senhor diria que homem não pode chorar, sempre teve um
jeito duro. Mas sabe, vô, eu vi o senhor chorar na última vez que eu visitei você no
hospital. Talvez você nem tenha percebido a lágrima escorrendo de canto, na última
bença que pedi ao senhor. Queria o senhor por perto, pra beijar sua mão mais um milhão
de vezes, pra poder dizer que te amo, coisa que só fiz uma vez, justamente na nossa
última conversa.
Vô, talvez eu não tenha sido o melhor dos netos, ou o senhor o melhor dos avôs, mas o
amor que nós sentíamos um pelo outro compensava tudo. O senhor tinha um jeito
especial de falar meu nome, era inconfundível quando me chamava. Talvez eu fosse o
único neto que você nunca errou o nome. Pensando bem, nunca é muito forte, mas com
certeza estou entre os que você menos errou. Aliás, tem neta nova por aqui, o senhor ia
adorar, sempre gostou de crianças. Infelizmente ela só vai te ver por fotografias, mas eu
farei questão de te manter vivo pra ela. Tenho certeza que ela te amaria…
Espero poder me reencontrar com os senhor algum dia, pra contar tudo isso, e mais um
monte de coisas que eu não consigo escrever, pessoalmente.
Com amor,
Seu neto, que morre de saudades.
Cabide Esculhambado
Cabide, muito emocionante. Eu nunca conheci um avô meu, mas recentemente uma vó minha faleceu. Apesar de ter os acontecimentos próprios da sua relação com seu avô, o sentimento de perda é um dos piores que a gente consegue sentir. Forças, você merece.
ResponderExcluirCabide, eu fiquei realmente emocionada com a sua carta! Infelizmente, eu nunca conheci o meu avô por parte de mãe. Mas eu sempre escutei muitas histórias sobre ele que me fizeram sentir como se eu tivesse. Espero que você faça o mesmo, que os meus familiares fizeram comigo, com essa nova neta do seu avô. E eu te desejo muita força pois nunca é fácil perde alguém que a gente ama tanto. Abraço!
ResponderExcluirMuito difícil perder alguém que temos como referência no mundo. Os mais velhos na família são essa referencia. Sinto muito.
ResponderExcluirCabide, eu nunca tive a oportunidade de conhecer nenhum dos meus avôs, então não posso dizer que entendo sua dor, mas posso dizer que sua carta me fez sentir tristeza só de imaginar. Tenho certeza que você foi um dos melhores netos e que ele te ama. Sinto muito e espero que fique bem
ResponderExcluireu confesso que não li nem metade de todos os textos que a nossa turma escreveu desde o início, mas entre os que eu li, esse seu já criou morada fixa dentro do meu coração e agora é um dos meus favoritos. foi estranho chorar lendo o que você escreveu porque eu sei que é algo só seu, um sentimento que só você entende, mas ainda sim as suas palavras fizeram meu coração se embrulhar todo. enfim, obrigada por deixar a gente ler esse texto incrível ❤
ResponderExcluirNão termieni de ler o seu texto, perdi uma pessoa muito querida recentemente e sei mais do que nunca como é triste. Cabe agora agradecer pelas lembranças que você tem com seu avô. Forças.
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