Será você quem achei que seria?

Daniel,

Preciso começar dizendo que seu nome tem influência direta minha e isso me faz muito

feliz. Fico assim porque, quando mostrei esse nome para o pai há uns 3 anos, vivíamos

um relacionamento incrível depois de meses turbulentos. Então, desde a barriga da mãe,

você já simbolizava um momento de alegria, da reconstrução de um relacionamento

forte, e era exatamente o que queria viver com você.

Quando criança, sempre quis ter a companhia de um irmão mais novo para cuidar,

acompanhar o crescimento de perto, ver as descobertas do mundo em cada fase desde

bem pequeno. Talvez tenha sido assim porque cresci com uma referência excelente em

casa. Foi quem me despertou a vontade de fazer o mesmo por alguém, nosso pai.

Insisti por muitos anos até convencer a mãe e o pai, até saber que você estava prestes a

chegar. É maravilhoso como uma criança muda a rotina e o ânimo de toda família. Com

você não foi diferente. Ele me contou quando ouviu seu coração “batendo rapidão” pela

primeira vez, quando começaram a conversar e até quando você começou a chacoalhar

na barriga da mãe – acabou deixando ela com um pouco de azia, depois ela acostumou.

A alegria tomou conta de mim, assim como a preocupação. Pensava que um irmão tão

mais velho precisava sempre estar pronto para zelar, ajudar e fazer o necessário com

muita responsabilidade. Pensei isso principalmente pelo período conturbado vivido no

nosso país e no mundo às vésperas da sua chegada, porém ainda tinha outra

complicação antes do grande dia.

Você veio justamente na fase de mais mudanças na minha personalidade. Quando de

fato me reconhecia depois de passar anos pensando saber quem realmente era. Na

prática, sua chegada só me fez evoluir devido ao fato de ter me trazido um senso de

urgência para estar preparado para uma aventura desejada há muito tempo.

Não sei como seria estar na sua companhia agora. Se cresceria tão amado quanto eu,

com amigos sempre encorajadores ou uma família que fornece um apoio incondicional.

Não consigo imaginar como as experiências que viveria te influenciariam. Quem elas te

tornariam. Sequer penso qual profissão gostaria de seguir. Enfermeiro, músico,

jornalista, nossa família adoraria mais um para essa pluralidade de vivências e

sabedorias.

No fim, não sei de muita coisa a não ser uma certeza: eu te amaria incondicionalmente.

Agora, continuo com o sonho de você chegar de novo para me contar quem é o Daniel.

O Tempo.